Este foi o tema da entrevista que dei ao professor doutor Antonio Fausto Neto para o CISECO - Centro Internacional de Semiótica e Comunicação e que compartilho por aqui.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
domingo, 12 de julho de 2020
Luiz Antônio Barreto uma amizade de 36 anos
Roberto, Osvaldo, Luiz Antonio e Bráulio |
Não
fomos como convidados da organização do evento e achamos melhor ficar mais afastados,
mas com a intenção de, aos poucos, nos aproximarmos dos convidados e dos grupos
folclóricos que lá se encontravam. Eu, um jovem que tinha colado grau no curso de
jornalismo em dezembro de 1975 estava deixando o período de estagiário para assumir
como professor da Universidade Federal da Paraíba, e o professor Roberto
Benjamin já era referência no campo dos estudos
do folclore, conhecido de alguns ilustres convidados e eu estava iniciando a minha trajetória de pesquisador, que se alongou por
toda minha vida acadêmica e sem dúvida foi no Encontro Cultural de Laranjeiras que dei a partida inicial para
as pesquisas empíricas e teóricas.
Chegando
em Laranjeiras próximo do horário previsto para abertura do evento encontramos
os professores e pesquisadores pernambucanos Valdemar Valente e Mário Souto
Maior, que além do Roberto Benjamin eu também os conhecia e foi um grande alívio
para mim encontrar os dois ilustres convidados que animadamente faziam elogios às nossas
atividades como estudiosos e pesquisadores do folclore ao nos apresentarem a Luiz Antônio Barreto,
idealizador e coordenador do evento, e a Bráulio Nascimento, presidente da
Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro/CDFB. Esse encontro foi um acontecimento
que marcou muito a minha vida como professor, pesquisador do folclore e da
cultura popular, da comunicação de massa e da folkcomunicação, campos de estudos
de meu interesse até hoje.
Roberto
Benjamin, foi meu professor na graduação no curso de jornalismo e na pós-graduação
como orientador no mestrado e sempre fez parte desde o início da minha formação
acadêmica. Mas a partir daquela noite de 28 de maio de 1976 Luiz Antônio
Barreto e Bráulio Nascimento incorporaram, com muita honra, o time dos meus
grandes mestres e com eles sempre estava apreendo como fazer uma investigação
de campo, ser ético e respeitar os detentores dos sabres populares. E assim foi
por longas décadas de convivência, de amizade e respeito, muitas vezes com
divergências de opiniões e definições de conceitos.
Este
depoimento é para prestar a minha homenagem a Luiz Antônio Barreto, porém não
podia deixar de citar esses dois importantes mestres e amigos, Roberto Benjamin
e Bráulio Nascimento, que quase sempre estávamos juntos participando de
congressos, simpósios, reuniões, projetos de pesquisas e de tantos outros
eventos culturais em diferentes lugares, mas foi nos encontros culturais da
histórica cidade de Laranjeiras que nossa amizade consolidou-se e junto vieram
tantos outros que gostaria de citar, até porque continuamos mantendo contatos e
resguardando o legado deixado por Luiz Antônio Barreto, assim como: Jackson da
Silva Lima(SE), Algaé D’Ávila Fontes (SE), Beatriz Góis Dantas (SE), Lindolfo
Amaral (SE ), Luiz Fernando Soutelo (SE), Antônio Alves do Amaral (SE), Verônica
Nunes (SE), José Maria Tenório (AL) Cáscia
Frade (SP), Maria Thereza de Camargo (SP), Marlei Sigrist (MS), Toninho Macedo
(SP), Severino Lucena (PE), José Fernando Sousa e Silva (PE), Affonso Furtado (RJ),
Eleonora Gabriel (RJ) José Ronaldo de Menezes – o mestre Zé Rolinha (SE) e
tantos outros que constituem uma rede de estudiosos e pesquisadores que deram
significativas contribuições para os novos entendimentos do folclore e da
cultura popular na atualidade.
Luiz
Antônio Barreto, historiador, jornalista, folclorista e um importante aglutinador
de pessoas com opiniões divergentes e com essa capacidade mediadora fez do
Encontro Cultural de Laranjeiras um dos mais importantes e longínquos eventos
temáticos sobre o folclore e cultura popular no Brasil. O encontro de Laranjeiras rompeu a barreira dos
40 anos ininterruptos, por lá passaram ilustres intelectuais brasileiros e
estrangeiros que deixaram importantes contribuições na formação de várias
gerações de estudiosos, de pesquisadores e principalmente de jovens, assim como
eu que cheguei para participar do primeiro encontro cultural como aprendiz, continuo
participando e aprendo cada vez mais.
O
Encontro Cultural de Laranjeiras, possibilita o diálogo para uma melhor
compreensão de novos entendimentos do folclore e da cultura popular, onde se ouvem
opiniões diversas, narrativas de novas experiências, de importantes ideias e de
fundamentações teóricas (palestras, seminários, etc.) e práticas (oficinas, minicursos
e as trocas de saberes com os mestres populares). Luiz Antônio Barreto, foi o
grande idealizador do Encontro Cultural de Laranjeiras e sempre teve o apoio
dos seus pares sergipanos e de tantos outros estudiosos de diferentes regiões
do Brasil, porque acreditavam na sua proposta, no seu projeto de pesquisa, de registro,
de divulgação e de apoio aos grupos folclóricos. Era impressionante o poder de
articulação e de diálogo que Luiz Antônio tinha com autoridades públicas e com
os empresários, não media esforços para conseguir o apoio, os patrocínios
necessários para a realização do encontro de Laranjeiras, é bom que se diga, sem
fazer concessões dos seus objetivos e mesmo em tempo de crises políticas e
financeiras o evento acontecia.
Ao
longo dos anos o encontro foi ampliando o seu espaço para divulgar Laranjeiras
como uma cidade detentora de importantes patrimônios culturais materiais e
imateriais. Um dos principais objetivos do encontro é reunir estudiosos e
pesquisadores da nossa cultura popular para conhecer de perto as manifestações
dos grupos folclóricos, as igrejas, os casarões, o mercado, o trapiche e as
ruas históricas de cidade. O encontro cultural contribuiu ainda mais para a
projeção de Laranjeiras no cenário nacional e internacional. Assim como disse
Luiz Antônio Barreto:
Quando a somação do
Governo do Estado com a Prefeitura Municipal, apoiada pela então Campanha de
Defesa do Folclore Brasileiro, Laranjeiras foi a destinatária de um conjunto de
ações, em torno do I Encontro Cultural, como a restauração da velha Casa de Laranjeiras
e instalação do Museu Afro Brasileiro de Sergipe, iniciando uma série de
restauros que devolveu ao uso público monumentos sociais, como o Mercado da
cidade, o Trapiche, a Casa da Câmara, bem como recuperou ruas de calçamento de
pedra, enquanto pavimentou outras, tornando melhor o piso da cidade. Com o
Encontro Cultural de Laranjeiras Sergipe foi grande beneficiado, porque foram
gravados, pela primeira vez, os sons dos grupos folclóricos e editados discos,
livros, cadernos de folclore, dando visibilidade a um variado elenco de grupos,
cada um com sua característica (citação do artigo publicado em
01/01/2000/Infonet).
O
Encontro Cultural de Laranjeiras não pertence só ao povo sergipano é um
patrimônio de todos nós, é uma sala de aula aberta aos estudiosos,
pesquisadores, aos mestres e brincantes das manifestações das culturas
populares. Como afirmou Bráulio Nascimento:
Na verdade, não é
possível falar do desenvolvimento dos estudos da cultura popular no Brasil sem
passar por Laranjeiras. Muitas ideias aqui expostas e debatidas constituíram o
núcleo de trabalhos de maior fôlego, que motivaram e estimularam debates em
outros pontos do País, em outros contextos culturais (citação do artigo
publicado em 2005 nos 30 anos do Encontro Cultural).
No
encontro de 1977 cerca de 200 grupos estiveram presentes durante a realização
do evento e Laranjeiras passou a se chamar, simbolicamente a capital do
folclore brasileiro no mês de janeiro. A professora e pesquisadora Aglaé
Fontes, na apresentação da publicação comemorativa dos 20 anos do encontro
afirma que:
Ao longo dos 20 anos O Encontro
Cultural de Laranjeiras, vem se constituindo um foco de resistência cultural em
defesa do folclore. Com as mais diversas formas de ver, pesquisadores e
estudiosos da cultura popular, apresentam, a partir de temas, informações e
aprofundamento de estudos, que fazem do simpósio um fórum aberto das discussões
de ideias (citação do texto de apresentação da publicação dos 20 anos do
encontro).
Portanto,
o evento foi crescendo tomando demissões que extrapolam o território da cidade
histórica de Laranjeiras e do seu entorno, ultrapassando o território sergipano
e passa a ser reconhecido por instituições culturais, estudiosos e
pesquisadores nacionais e internacionais. Sou testemunha ocular da história do
Encontro Cultural de Laranjeiras, não só por participar do primeiro realizado
em maio de 1976 e em tantos outros, mas também fazia parte de um pequeno grupo
que gozava da amizade, da confiança e do
carinho de Luiz Antônio conquistados durante os 36 anos de muitos encontros
alegres e tristes porque nem tudo foi festa. Nos últimos anos Luiz Antônio já
não participava do encontro em Laranjeiras achava que o objetivo principal do
evento era a valorização dos grupos folclóricos tradicionais e que estavam
sendo menosprezados pelas autoridades locais. Ou seja, os grupos folclóricos
não são mais os protagonistas do evento, agora são os coadjuvantes da
festa.
O
tema central do encontro em 2018 foi, Nosso palco é a rua, mas os camarotes e
os palcos patrocinados pela administração municipal é que tomaram conta das
ruas de Laranjeiras para apresentações de shows artísticos predominantemente de
cantores e cantoras de músicas sertanejas e os grupos folclóricos tradicionais ficaram renegados e a festa já não
é mais deles com era desejo do seu idealizador e de sua equipe de apoio. Nada contra
qualquer gênero de música e de show artístico, mas cada qual no seu tempo e
espaço e Barreto não concordava com a secundarização dos grupos folclóricos e
com a falta de apoio a eles.
O
tempo e o espaço do Encontro Cultural de Laranjeiras, das manifestações dos
grupos folclóricos, da Festa de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário
celebrada no dia de Reis, deveria ser respeitado pelas autoridades civis e
religiosas. O volume alto do som, que durante o dia ecoa dos palcos, abafava as
falas dos conferencistas e dos debates que se realizavam no simpósio e, de
noite, abafava as músicas e danças dos grupos folclóricos. Mas, assim mesmo a
Taieira, a Chegança e o Cacumbi saíram em cortejo, no domingo pela manhã, rumo
à igreja de São Benedito para participar da missa de coroação das rainhas de
Nossa Senhora do Rosário e da Taieira, percorrendo as ruas desviando ora dos
automóveis, ora dos palcos instalados nas esquinas, nas praças e até no meio
das ruas numa verdadeira caminhada de obstáculos até chegarem à igreja. E essas
atitudes adotadas pelas últimas administrações do município de Laranjeiras
foram afastando Luiz Antônio do encontro cultural.
O
meu último encontro presencial com Luiz Antônio Barreto, foi em janeiro de 2012
no Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura-ITBEC, instalado no prédio da
Biblioteca Central da Universidade Tiradentes, quando estava totalmente
dedicado às atividades do ITBEC cheio de ideias para novos projetos de curto e
médio prazos, mas não sentia aquele entusiasmos quando falávamos do encontro
cultural de Laranjeiras, das políticas públicas de apoio às culturas
tradicionais. Foi um dia de boas conversas, de recordação dos acontecimentos
que participamos, a saudade de alguns amigos que não estavam mais aqui com a gente,
isso tudo durante as quase duas horas andado pelas instalações do ITBEC. Fomos
almoçar e continuamos conversando e já no final da tarde deixou-me no hotel e nos
despedimos com um até breve e jamais poderia imaginar que seria o nosso
encontro final. Foi assim a nossa amizade durou de 1976 até o dia 17 de abril
de 2012 quando recebi a notícia do seu falecimento por telefone da nossa amiga
Aglaé Fontes.
Não poderia deixar de registrar aqui o projeto Contos Populares Brasileiros, com administração cultural de Luiz Antônio Barreto, que na época do seu desenvolvimento era o Superintende do Instituto de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco-Fundaj, que envolveu diferentes instituições culturais do Brasil e de Portugal. Mais uma vez Luiz Antônio me faz uma provocação para mais um desafio o de assumir com o professor e pesquisador Altimar Pimentel a coordenação do projeto na Paraíba. E como resultado do desafio iniciado em 1987, com a supervisão do professor Bráulio do Nascimento, o trabalho foi publicado em 1996 pela Editora Massangana da Fundaj.
O
Encontro Cultural de Laranjeiras, possibilitou e continua possibilitando, nestes
anos todos, significativas reflexões sobre a cultura tradicional na
contemporaneidade, continua contribuindo na formação de jovens estudiosos e
pesquisadores do folclore e da cultura popular brasileira e especialmente
nordestina.
E
assim Luiz Antônio Barreto deixa o seu legado, não só nas importantes
publicações em livros, nos anais dos encontros de Laranjeiras, nos colóquios de
Tobias Barreto, nos seminários de Estudos Medievais, em incontáveis artigos
publicados em jornais, não só como secretário de educação e de cultura, mas
também como incentivador e apoiador de diferentes eventos culturais, organizador
e criador do Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura, uma de suas
maiores paixões.
E
por último deixo aqui a seguinte mensagem de Luiz Antônio Barreto sobre o
encontro cultural como uma demonstração de respeito e admiração que tinha pela
histórica cidade de Laranjeiras e do simpósio cultural:
O Encontro
Cultural de Laranjeiras é um campus avançado de cultura que está ensinando a
pensar o povo e sua existência no tempo histórico e no espaço da região com
suas tipicidades que, em muitos pontos, converge inteira para espelhar o
Brasil. Talvez falte apenas um detalhe:
é a consciência da importância do Simpósio para Sergipe e para a comunidade
intelectual brasileira (citação
do texto: Laranjeiras, a Revisão Religiosa, publicado na edição comemorativa
dos 20 anos do Encontro Cultural de Laranjeiras).
Os
seus livros, artigos, suas ideias, seus conceitos e métodos de pesquisas continuam
atualizados e disponíveis em centros culturais, bibliotecas e redes sociais.
Tabatinga/PB,
outono de 2020.
quinta-feira, 25 de junho de 2020
Eu tenho medo da Covid-19
Com todo respeito: você também?
Entre o caos e o desassossego,
Eixos do mal,
Desordem mundial,
Há tanta gente quilhada.
Com todo respeito
Jorge Palma
(cantor e
compositor português)
Como
pertenço ao grupo de risco, idoso com mais de 70 anos e hipertenso, estou
cumprindo rigorosamente o isolamento social em casa, estou afastado da
afetividade presencial dos familiares e dos amigos, mas acompanhando os
acontecimentos do mundo e aqui do Brasil. E neste isolamento ouvindo a música Com todo
respeito, do grande cantor e compositor português
Jorge Palma, o que me chamou atenção é o conteúdo da letra bastante apropriada
para este período de pandemia. Assim, com todo respeito à Covid-19, vou
continuar em casa e aguardando o final da pandemia.
Sou
professor associado aposentado da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, depois
de trabalhar mais de 30 anos, fiz a opção de ficar mais tempo em casa no meu
tempo de ócio, estudando e produzindo os meus trabalhos. No meu isolamento
social, em época de pandemia, não sinto tanta falta do mundo lá de fora. Estou
mais tempo no espaço privado da casa do que no espaço público da rua. Na minha
casa tenho os espaços, as coisas que mais gosto de fazer, sempre ao lado de
Rosinha minha companheira há mais de 40 anos, minha amiga, mãe dos meus filhos
e um ser humano fantástico que tanto amo. Só lamento que nem todos possam dizer
a mesma coisa. O que mais incomoda é o distanciamento dos meus filhos, das
noras e dos netos, que moram longe da gente e tornou-se impossível visitá-los
em época de pandemia.
Portanto,
ficar em casa é um hábito que tenho muito antes das recomendações para evitar a
Covid-19, até porque já não vou com frequência ao cinema, ao restaurante, ao
boteco, nem a eventos culturais e, visitas e festas na casa de familiares e
amigos, só em ocasiões especialíssimas. Em casa estou quase sempre na
biblioteca, na sala vendo televisão ou assistindo filmes, ouvindo rádio, ou fazendo
tudo ao mesmo tempo até porque não sei ler e nem escrever com silêncio. E tem
mais, quando necessário ajudo nas atividades domésticas, são essas coisas que
atualmente mais gosto de fazer e nunca estou de pijama.
Agora
o mundo está vivendo uma nova experiência com o ataque da Covid-19 que se
espalha por quase todas as localidades provocando uma pandemia que marcará para
sempre a história da sociedade humana no século XXI. Como não poderia deixar de
ser o Brasil é também afetado pelo novo coronavirus que está intrigando o mundo
científico, driblando os meios de comunicação social com a desinformação – fake
news – e os demais campos do conhecimento. A Covid-19, uma coisa invisível
a olho nu, está causando grandes estragos nos sistemas de saúde e econômico em
escala planetária.
A
reboque da crise sanitária provocada pela pandemia evidencia-se a fragilidade
das instituições (saúde, educação, cultura, economia, política e tantas outras),
dá mais visibilidade às desigualdades sociais existentes não só nos países
pobres, mas também nos países ricos. E como consequência do processo de
globalização e dos grandes negócios para atender as demandas desenfreadas de
consumo exigidas pela sociedade atual, estamos vivendo, cada vez mais, grandes
crises em períodos mais próximos uns dos outros. Estão cutucando a natureza
com vara curta.
A
pandemia provocada pelo novo coronavirus pegou as pessoas em cheio, no primeiro
momento, as das classes sociais privilegiadas, as que viajavam a negócios ou
turismo e, gradativamente, foi saindo perigosamente do centro para a periferia.
Aí o mundo ficou assustado com o “diabinho” do novo vírus que não é de esquerda
e nem de direita.
A
Covid-19 é democrática, afeta pessoas de todas as classes sociais, não faz
distinção de gênero, cor, faixa etária, ideologia, religião, umas mais, outras
menos, umas ficam curadas e outras morrem nos leitos dos hospitais públicos e
privados, ou mesmo nos leitos de suas casas. O novo coronavirus infecta quem
está mais próximo e mais vulnerável. O que não é democrático são as
alternativas de atendimento para a maioria das pessoas contaminadas, que ficam
longas horas na fila dos hospitais à espera do atendimento médico ou do acesso
aos respiradores.
Numa
democracia os momentos de crise provocam divergências nas várias instituições
de um país e a crise provocada pela pandemia não é diferente, são intensos os
debates nos meios científicos, especialmente da área da saúde, nos meios econômicos,
nos embates políticos, mas quando a crise provoca o desordenamento gerencial, a
falta de diálogo e de lideranças as consequências são mais devastadoras. É lamentável
o que está acontecendo aqui no Brasil.
A
crise provocada pela Covid-19 tem grandes consequências na economia e afetará a
curto e a médio prazos diferentes países, mas aqui no Brasil, além de queda,
coice, como dizia a minha avó quando o azar é grande demais. Melhor dizendo,
além da crise sanitária e econômica temos o azar de uma crise política grave na
hora errada e desnecessária neste momento em que todos nós somos atingidos pela
pandemia. Pois é, no momento que a tal curva da pandemia ora sobe, ora desce,
aqui o governo federal recomenda uma coisa, os governadores dizem outra coisa,
os prefeitos determinam outra coisa, o poder judiciário não concorda com as
coisas ditas, a OMS afirma que a pandemia na América do Sul ainda não atingiu o
pico e de coisa em coisa, ditas e não ditas, de decretos e mais decretos o Brasil vai caminhando, provavelmente, para
ganhar a tríplice coroa das piores crises conjuntas: sanitária, econômica e política
de 2020. E ainda tem uma quarta crise, a psicológica – do medo – que
atinge pessoas assim como eu, do grupo de risco, que têm medo de sair de casa,
do botão do elevador, do corrimão da escada, de ir ao supermercado, à farmácia,
à padaria, da aproximação de familiares, de amigos, de vizinhos, de espirros, de
tosses e quase tudo que acontece no nosso entorno.
E no vai e vem dessa crise política a crise sanitária prolonga-se e consequentemente a economia do país agrava-se. A crise política é deles, mas contamina todo povo brasileiro.
Estamos sofrendo com essa pandemia, principalmente os marginalizados socialmente. Ou seja, os mais pobres e os invisíveis socioeconômicos. É chegada a hora para soluções e entendimento entre os poderes da república para que todos juntos possam vencer a Covid-19, o nosso inimigo atual. Pois é, não dá mais para esperar, o tempo está passando e a pandemia alongando-se. E com todo respeito, não tenho a minha vida para chafurdo de ninguém. É por isso que continuo procurando o País de São Saruê .
.
quinta-feira, 4 de junho de 2020
Isso vai passar
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Vou morar em São Saruê
lá não tem isolamento social nem Covid-19
Folheto Manoel Camilo das Santos 1981 |
As possíveis origens desse lugar encantado
Na Europa medieval surgiram narrativas tradicionais orais transmitidas de geração em geração que contavam a lenda de um povo que morava num lugar imaginário, provavelmente localizado no Norte da França. Quem vivia nesse lugar maravilhoso tinha liberdade de sair de casa a qualquer hora, não passava fome, não precisava trabalhar, estava livre de todas as doenças e não ficava esperando a morte chegar.
São Saruê: um país utópico no sertão nordestino
Mas, não podemos afirmar com precisão como as narrativas sobre esse lugar das mil e uma fantasias chegaram ao Brasil, se foi com os colonizadores portugueses, espanhóis, holandeses ou até mesmo pelos franceses que estiveram, por maior ou menor tempo no território brasileiro. Todos esses povos eram portadores de diferentes narrativas desse lugar imaginário cheio de encantamentos, de maravilhas e da juventude eterna.
A Viagem a São Saruê: um lugar de encantamento
As narrativas contadas desse país habitado por povo feliz rompem a barreira do tempo, viajam por muitos lugares, no carro da brisa, transformam-se em cordel, um dos mais vendidos no Nordeste brasileiro, pela veia poética do paraibano Manoel Camilo dos Santos.
Gravura de José Costa Leite. Folheto 1977 |
Gravura do Folheto de 1981 |
Gravura de José Costa Leite. Folheto 1977 |
Gravura de José Costa Leite. Folheto 1977 |
Referências