Vale a pena ver de novo?
O Jornal Nacional da Rede Globo no dia
21 de novembro exibiu mais uma reportagem da série JN no Ar com o repórter
Pedro Bassan mostrando os efeitos da seca em diferentes cidades do Nordeste. E
qual era a novidade da reportagem. A distribuição de água por carros- pipa? A
mortandade dos animais vítimas da sede e fome? A fuga do sertanejo sofrido para
outras regiões? A falta de decisões políticas? Qual era mesmo a novidade? Nada
disso é novidade, são coisas que acontecem há muitos anos e todas as vezes que o
semiárido é atingido por mais um período de seca tudo isso volta à tona. A seca
se repete regularmente no Nordeste e quase nada muda. A única novidade na
reportagem é a qualidade das imagens que atualmente são exibidas em HD.
Fonte: Relatório "Nordestinos", Rede Globo/1984 |
Em
1984, há 28 anos, a Rede Globo primeiro lançou uma campanha Nordestinos, Urgente, que
tinha como objetivo a arrecadação de alimentos e água para matar a fome e a
sede dos que estavam sofrendo com mais um longo período de seca. Foi uma
comoção nacional e toneladas de donativos chegavam ao Nordeste para minimizar,
mesmo que temporariamente, a fome e a sede dos nordestinos pobres do semiárido.
A equipe responsável pela campanha Nordestinos,
Urgente ao avaliar os resultados da mobilização nacional de doações,
verifica que são efêmeros, emocionais, assistencialistas e nada mudaria a curto
ou longo prazo a situação na região. Ou seja, o problema no Nordeste não seria
resolvido apenas com doações de alimentos e água temporariamente, ou com
subsídios, com obras emergenciais ou até mesmo com esmolas.
No mesmo ano a Confederação Nacional dos
Bispos do Brasil publica um documento denunciando a miséria, as ameaças
constantes de genocídio do povo nordestino, a inoperância das autoridades e dos
programas oficiais.
Frente à situação pela qual passava o
Nordeste em 1984 a Rede Globo de Televisão lançou o projeto Nordestinos: O Brasil em busca de soluções. E teve o apoio de 11
universidades nordestinas na sua execução. Nessa época eu fazia mestrado em
Administração Rural e Comunicação Rural na Universidade Federal Rural de
Pernambuco/UFRPE, um das universidades envolvidas no projeto e como aluno
fiquei interessado em acompanhar a mobilização liderada pela Rede Globo de
Televisão. O projeto teve o seu lançamento em cadeia nacional com o
pronunciamento do Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Eugênio Sales, nordestino do
Rio Grande do Norte, que conhecia os problemas do semiárido. Foram 50 dias de
atividades no campo com a participação de professores, pesquisadores e
técnicos, das universidades conveniadas, que percorreram 7.700 quilômetros
coletando informações sobre os efeitos da seca em oito estados e vários
municípios do semiárido.
Fonte: Relatório "Nordestinos", Rede Globo/1984 |
O trabalho de campo teve como objetivo coletar
testemunhos, opiniões e informações de autoridades e especialmente do povo,
mais de seis mil pessoas contaram suas histórias sobre a miséria, a fome e o
abandono do semiárido pelas autoridades, sobre as questões da terra e as
relações de trabalho, sobre as famigeradas frentes de emergências, sobre o uso
da água, das novas tecnologias e dos agrotóxicos, sobre as questões da
comercialização e cooperativismo, sobre o crédito agrícola, sobre a educação, a
saúde, a nutrição e sobre tantos outros problemas.
O relatório do projeto Nordestinos: o Brasil em busca de soluções,
lá nas suas conclusões afirma:
A
população sertaneja está cansada de promessas e frustrações Quando se fala em
falta de decisão política para resolver os problemas urgentes dos sertões,
estranha-se. Afinal de contas, nos últimos anos, o Nordeste tem tido um peso
politico considerável dentro do partido governista e seus representantes têm
ocupado cargos importantes. A Prova dos Nove foi feita: não basta ter
representação política formal: é preciso a mobilidade de todos. Sem mobilização
democrática não haverá transformação social. Esta é a política que os sertões
precisam: participação e cidadania (Projeto
Nordestinos: o Brasil em busca de soluções. Relatório de Viagem ao Sertão. Rede
Globo, 1984, p. 26).
Nessa nova série de reportagens sobre o
Nordeste o Jornal Nacional (TV Globo), agora no dia 26 de novembro, mostrou ao
Brasil o desperdício de recursos públicos na tão esperada obra de transposição
do Rio São Francisco. O que estamos assistindo no Jornal Nacional é um retorno
ao passado e que não é simulacro, não se trata de ficção é a pura realidade. O
documento então publicado, há 28 anos atrás, pela Rede Globo e as 11
universidades nordestinas continua atual e os debates sobre os problemas no
Nordeste e especialmente no semiárido se repetem. Ou seja, passaram os anos e quase
nado mudou e a nossa esperança está na nossa fé, como enfatizou a ministra do
Planejamento Miriam Belchior (...) que as pessoas não percam a confiança. Aquele pessoal tem fé. E o que
eu posso dizer pra eles é que a água vai chegar, sim, em 2015.
Ah! Bom, então tá, com fé esperamos.
Agora que se aproxima o fim de 2012,
vale a pena ver de novo tudo que o JN nos mostra em rede nacional, a pior seca
dos últimos 30 anos. Plimplim!!!