sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O 13 de Outubro no Santuário de Fátima Portugal

 Mais uma vez, eu e Rosinha, passamos uma temporada em Portugal e a maior parte do tempo em Fátima, para um convívio com familiares e amigos. Mas, também aproveitei para continuar as minhas observações no Santuário na tentativa de compreender melhor a demonstração de fé não só dos portugueses, mas de católicos das diferentes partes do mundo à Nª. Sª. de Fátima, que durante todo o ano vão aos milhares à Cova de Iria principalmente de maio a outubro nos dias 12 e 13 de cada mês .
Completamos o ciclo das grandes peregrinações internacionais de aniversário das aparições, estávamos lá em maio (2011), em agosto (2013) e agora em outubro de 2014. É impressionante ver a chegada dos peregrinos ao Santuário procedentes de todas as partes do mundo e de diferentes maneiras, em grupos ou individualmente, inclusive das longas jornadas de caminhadas pelas rotas dos peregrinos.
Na noite do dia 12 um grande número de fiéis participou da vigília de oração e por volta das 22 horas teve início a procissão das velas, mesmo com muita chuva, vento e frio os peregrinos abrigados em guarda-chuvas e capas não mediram esforços ficaram até o fim da cerimônia. 
É sem dúvida um momento emocionante e testemunhamos o mar de velas levadas pelos peregrinos que iluminavam o Santuário no percurso da procissão que terminou por volta das 23 horas. O Santuário continuava cheio, eram aproximadamente 90 mil fiéis, segundo cálculos da Assessoria de Comunicação do Santuário (Jornal Voz de Fátima, 13/11/2014). Muitos dos peregrinos continuaram por toda noite em vigília na Capelinha das aparições mesmo com tempo adverso.
No dia 13 de outubro (institucionalizado em junho deste ano pelo Parlamento de Portugal como o Dia do Peregrino) pela manhã começaram as celebrações de encerramento oficial das peregrinações de 2014. A missa solene foi celebrada por D. Filipe Neri Ferrão, arcebispo de Goa e Damão e patriarca das Índias Orientais. A chuva, o vento e o frio continuaram por toda a manhã e no Santuário cerca de 150 mil peregrinos dos 131 grupos oriundos de 25 países ocupavam os espaços da Cova de Iria para participar da missa solene e da procissão da despedida (Jornal Voz de Fátima, 13/11/2014).
Outro momento de grande emoção, na manhã do dia 13, é a procissão da despedida quando os fiéis agitam os seus lenços num gesto de adeus à Virgem Maria.  É realmente uma ocasião muito especial, um acontecimento que impressiona mesmo aqueles que não são católicos, que estão ali apenas na condição de turista para conhecer o Santuário de Fátima ou para assistir um megaevento religioso. 
São 97 anos das primeiras aparições e cada vez mais cresce o fluxo de peregrinos de todas as partes, independente de gênero, raça, faixa etária e até de fé, que vão a Fátima, um dos mais importantes santuários católicos do mundo. 

Ali os peregrinos têm ainda a oportunidade de conhecer o complexo arquitetônico contemporâneo da Igreja da Santíssima Trindade, os Valinhos, a Capelinha das Aparições, a Basílica de Nª Sª. do Rosário, os museus e a boa gastronomia portuguesa. Fátima se prepara para as celebrações do centenário das aparições em 2017 e o mundo católico estará voltado para esse acontecimento religioso.

Os pagadores de promessas


A prática de pagar promessas vem desde a origem das religiões, mesmo antes da difusão do cristianismo e do catolicismo. A oferenda votiva é uma manifestação tradicional enraizada no catolicismo popular brasileiro, herdada do catolicismo ibérico, especialmente dos portugueses e que até hoje continua sendo praticado no Brasil e em tantas outras partes do mundo.  


No Santuário de Fátima, a tradição de pagar promessa, fica muito evidente com as mais diferentes manifestações de fé a Nª. Sª. de Fátima. A prática universal do pagamento de promessa continua sendo um ato de demonstração da gratidão, de agradecimento do devoto e dá a certeza que a graça e o seu desejo alcançado teve a intermediação do seu santo ou de sua santa de devoção. 

A promessa paga, materializada pelo ex-voto, significa o agradecimento do fiel à sua divindade pela realização do casamento, pela cura de doenças e dos vícios, pela passagem de ano nos estudos, a conquista de um novo emprego, da aquisição da casa, de um carro, de uma moto ou de outros desejos. Enfim, o pagamento de promessa é uma manifestação de caráter religioso vinculado a uma atividade extraordinária, daquilo que foge às práticas cotidianas do devoto e são manifestações do sagrado presente em quase todas as religiões.
Durante o ano milhares de peregrinos no Santuário de Fátima pagam promessas acendendo velas, deixando ex-votos, na sua maioria de cera em forma do corpo humano ou de animais. São cabeças, pernas, braços, pés, corações, rins, seios, também há uns que pagam promessas deixando flores, cartas, bilhetes, fotografias, outros com penitencias e com sacrifícios físicos pagam as suas promessas de joelhos e até mesmo se arrastando, quase sempre em torno da Capelinha das aparições. Testemunhamos as mais diferentes manifestações de fé nesses vários tempos e espaços de observação no Santuário.

Fátima como destino turismo

A cidade de Fátima, fica a 110 quilômetros de Lisboa, além de ser um destino turístico religioso, oferece aos visitantes uma boa rede hoteleira, de restaurantes, tascas e petiscarias com preços acessíveis a todas as categorias socioeconômicas. 
Mas, nos restaurantes Tim Tim, Crispim, Paladares ou no Café Azinheira entre outros, os turistas podem degustar o que tem de melhor na tradicional gastronomia portuguesa.
Os peregrinos e os turistas ainda podem comprar artigos religiosos nas centenas de lojas espalhadas por toda cidade e recomendamos as lojas localizadas no Centro Comercial Azinheira e no edifício João Paulo II (o popular Redondo), nas cercanias do Santuário. 
Nesses locais pode-se comer e comprar artigos religiosos sem perder muito tempo na busca de preços e qualidade. 

Nos dias 12 e 13 de outubro visitaram Fátima mais de 200 mil pessoas e a polícia local registrou prováveis dois furtos de carteira, porque as pessoas que prestaram queixa não tinham a certeza se foram mesmo furtadas ou se perderam seus objetos e, um acidente de transito sem maiores consequências (Jornal Notícia de Fátima, 24/10/2014). Fátima, assim como o país, é uma cidade segura que o turista não necessita ficar preocupado ou com medo de andar nas ruas. 
Sem dúvida, Fátima será sempre um destino turístico de interesse dos brasileiros que visitam Portugal, além do motivo principal que é a visita ao Santuário, mas também pela hospitalidade, pela facilidade da língua, itens que fazem os brasileiros se sentir mais próximos do Brasil fora do Brasil. Tenho quase certeza que em 2017, ano do centenário das aparições, os brasileiros irão em maior número a Fátima.


  

























quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Caboclo & Caboclos

Capa do CD
Caboclo é o título do novo álbum de Pierre Aderne lançado este ano em Portugal com boa aceitação de público e da crítica não só pela beleza das músicas, mas pela obra de arte da sua embalagem e a participação de convidados entre os quais Melody Gardot e Philippe Baden Powell. O Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, Portugal, onde aconteceu o concerto de lançamento de Caboclo, no dia 14 de novembro, é testemunha do que digo.

De caboclo Pierre tem a sabedoria, a persistência, a luta para chegar onde quer, a superação das dificuldades e o desejo de viver em harmonia com a natureza, assim como são os verdadeiros caboclos. Caboclo, o álbum de Pierre, é uma mistura de música brasileira e portuguesa, passando por Cabo-Verde e pelo mundo afora.

Caboclo é o filho nascido de índio com branco (ou vice-versa), que tem caraterísticas fisionômicas marcantes que definem bem essa mistura e, quase sempre, habita áreas próximas das matas, dos rios e vive como pessoa simples, mas grande detentora de saberes culturais tradicionais. Nesse sentido Pierre Aderne é um caboclo que mistura diferentes estilos musicais com caraterísticas que definem muito bem o seu jeito de cantar e compor. É caboclo quando consegue juntar a música tradicional e contemporânea brasileira e portuguesa (re)simbolizando o antigo e o novo sem cair na mesmice e sem forçar “a barra”, até porque Pierre é caboclo com conhecimento de causa.

Nascido na França, Pierre sim, é caboclo pela vivência lá na comunidade de Olhos D’Água no interior de Goiás, junto com a caboclada ouvindo e cantando a Catira e a Folia de Reis, é também caboclo pela sua passagem por João Pessoa na beira do mar do lado de cá do Atlântico convivendo com os caiçaras cantadores e dançadores de Cordel, de Coco Praieiro, de Ciranda e de Bumba-Meu-Boi, ou ainda a vivência, já mais maduro, no Rio de Janeiro entre Copacabana e Ipanema ouvindo e cantando o que tem de melhor do samba brasileiro e da bossa nova.
Por tudo isso e muito mais que o novo álbum de Pierre é Caboclo.
Contra capa do CD Caboclo

Caboclo é global porque o seu conteúdo é mundial e local ao mesmo tempo, porque Pierre, mesmo morando na Rua das Pretas bem ali no centro de Lisboa, continua com “os pés” assentados na sua terra, no seu chão e nas suas experiências vividas, desde o nascimento, com o professor Armando Faria e a professora Laís Aderne.
Não é por mero acaso que Caboclo é essa hibridização cultural vivenciada por Pierre Aderne, como resultado do cruzamento de um português lá de Vilar dos Prazeres (Ourém) com uma brasileira aqui de Diamantina/Minas Gerais.

Não é só mais a língua e nem o Atlântico que unem o Brasil a Portugal (ou vice-versa), agora temos o Caboclo de Pierre Aderne.

Deguste em "Fado do Ladrão Enamorado" um
pouquinho do que encontra em Caboclo.