terça-feira, 25 de julho de 2023

A Festa do Rosário de Santa Luzia e o Cortejo do Tope do Juiz

Texto e fotos: Osvaldo Meira Trigueiro

 

Publicado originalmente na Revista Internacional de Folkcomunicação, este ensaio fotográfico, reúne registros em diferentes anos da pesquisa empírica com o objetivo de documentar e mostrar os principais momentos do cortejo do ‘Tope do Juiz” na Festa do Rosário, de São Luiza no sertão da Paraíba. Outubro é o mês de Nossa Senhora do Rosário, o mês das festas para os Reis Negros, comemoradas em quase todo o Brasil. É uma grande festa, bem caraterística do catolicismo popular, com celebrações hibridas entre o sagrado e o profano, com novenário, missa, procissão, grupos folclóricos, artesanatos, comidas típicas, parques de diversões, quermesses e muitas outras manifestações da tradicional cultura popular e do folclore.

No segundo domingo de outubro a cidade de Santa Luzia celebra a sua festa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Santa Luzia fica na região do Seridó do Estado da Paraíba, com cerca de 16 mil habitantes, a uma distância de 263 quilômetros de João Pessoa, 134 de Campina Grande e apenas 42 de Patos. Tem hotel, pousada e restaurantes com comidas típicas do sertão nordestino.  

A Festa do Rosário de Santa Luzia tem o seu início com o novenário, mas acontecem no sábado e no domingo do Rosário os momentos mais importantes da festa com celebrações na igreja e nas ruas com grande participação de devotos de várias regiões. 

Sábado é o dia da feira na cidade, o grupo Pontões, grupo folclórico que sai dançando pelas ruas ao som de uma banda de Pífano, com lanças enfeitadas com fitas coloridas e na ponta um maracá que marca o ritmo das danças. O grupo acompanha o cortejo da Irmandade do Rosário recolhendo donativos e desfilando pela cidade convidando o povo para a festa.

Um dos momentos mais significativos é o “Tope do Juiz”. Por volta das onze horas da manhã do sábado o Rei, a Rainha e os demais membros da Irmandade do Rosário, que simbolizam a família real, saem em cortejo, animados pela música, dançando e sempre com a proteção do grupo dos Pontões em direção à ponte sobre o Rio Quipauá, na BR-230, na entrada da cidade, para esperar o Juiz e a Juíza da Irmandade escoltados por um grupo de cavaleiros. Nos anos de 1992, 1997 e 2007 realizei observações empíricas, etnográficas, pesquisas participativas e folkcomunicacionais, o que possibilitou documentar diferentes momentos da tradicional festa, com a participação de cerca de 200 cavaleiros, pessoas de carro, de moto, de bicicleta e até a pé no cortejo do “Tope do Juiz” da zona rural para a igreja da cidade. O Juiz e a Juíza da Irmandade, sempre saem de uma localidade da zona rural e no lugar da concentração, ou ponto de partida da comitiva, a festa é animada com músicas, aboios e loas em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, tudo regado com muita bebida, tira-gosto de buchada, picado, carne-de-sol, bode guisado, farofa e tantas outras comidas típicas do sertão. O estouro de fogos de artifício anuncia a saída da comitiva rumo à cidade, é um momento de grande expectativa.  


Concentração da Cavalgada do Tope do Juiz (Zona rural de Santa Luzia/Paraíba


Saída do Tope do Juiz (Zona rural de Santa Luzia/Paraíba)
Saída do Tope do Juiz (Zona rural de Santa Luzia/Paraíba)



Acesse aqui o ensaio fotográfico completo





sábado, 8 de julho de 2023

A Festa dos Tabuleiros de Tomar: a compartilha com a família Antunes

Texto e imagens: Osvaldo Meira Trigueiro

 

Em junho de 2011, durante mais uma temporada em Portugal, a convite do casal amigo António e São Antunes, eu e Rosinha fomos a Tomar para visitar os monumentos históricos, principalmente o Convento de Cristo, as Igrejas de Santa Iria, de Santa Maria dos Olivais, São João Batista além de tantos outros monumentos históricos. Mas, ao chegar à cidade passando pelas ruas fui observando algo mais do que os famosos monumentos, eram cartazes, vitrinas de lojas ornamentadas, bandeirolas nos postes anunciando a Festa dos Tabuleiros. Então, perguntei ao casal amigo que festa era essa que estava programada para 2 a 11 de julho de 2011 e que a cidade estava quase toda envolvida na realização do grande evento. Antônio e São, foram dizendo: é a nossa maior festa que só acontece de quatro em quatro anos em homenagem ao Divino Espírito Santo. E nos convidaram para ficar na sua casa durante os festejos e de pronto aceitamos a hospitalidade dos amigos. Como a nossa base em Portugal era em Fátima, cerca de 30 quilômetros da Cidade Templária, chegamos logo cedo no dia 2 de julho no início da festa.

Tomar, também denominada de Cidade Templária, está localizada no centro de Portugal cerca de 140 quilômetros de Lisboa, 30 do Santuário de Fátima, com fácil acesso por autoestrada, trem e confortáveis linhas de ônibus.

A Festa dos Tabuleiros

Tenho andado por diferentes lugares estudando e pesquisando as festas tradicionais populares religiosas e profanas no Brasil que, por sua grandiosidade, cada uma das festas e romarias me impressionam pela quantidade de participantes, devotos ou não. Nos últimos 10 anos tenho realizado em Portugal observações de estudo e pesquisas em algumas das festas e romarias, que aqui poderia destacar como: as dos santos populares, Santo Antônio, São João e São Pedro em Lisboa, no Porto, em Gaia e no Valongo, assim com as romarias no Santuário de Fátima. Não poderia deixar de incluir nessa empreitada a grande Festa dos Tabuleiros de Tomar e estava lá em 2011, 2015 e 2019 pesquisando esse mega acontecimento popular que envolve quase toda a cidade com cerca de 20 mil habitantes e  que no período da festa ultrapassa um milhão de pessoas, vindas de quase todas as localidades de Portugal e de outros países, principalmente no domingo do grande cortejo dos tabuleiros. Este ano acontece mais uma festa de 1 a 10 de julho e desta vez não estou em Tomar presencialmente, mas acompanhando pelas redes sociais, pelos jornais online “O Templário” e “Cidade de Tomar”, as rádios “Cidade de Tomar 90.5 FM e Hertz 98.0 FM, importantes veículos de comunicação local que realizam excelentes coberturas dos acontecimentos na cidade de Tomar no período da grande festa em 2023.  

A Festa dos Tabuleiros atualmente é um mega acontecimento midiático sem, no entanto, perder a sua mística, as suas tradições que remontam às festas pré-cristãs e culto ao Divino Espírito Santo que vem desde o início do século XII e estimulada em Portugal pela Rainha Santa Isabel.    

João & Marta: no cortejo dos tabuleiros

Na festa de 20111 acampamos passo a passo o casal João e Marta ,a filha mais nova da família Antunes, que desfilaram no cortejo dos tabuleiros no grande domingo da festa. No depoimento da Marta fica demonstrado o carrinho, o afeto e a devoção ao Espírito Santo. Levar o tabuleiro é mais que uma demonstração festiva é uma atitude carregada de simbolismo de fé, como ficou registrado nesse ensaio audiovisual. A Festa dos Tabuleiros não poderia ficar de fora das ressignificações porque passam tantos acontecimentos culturais tradicionais no mundo globalizado para atender os interesses de consumo das grandes mídias e as demandas do turismo regional, nacional e internacional.  Mas a festa continua sendo para a comunidade da cidade Templária de Tomar e seus entornos uma celebração ao culto do Divino Espírito Santo, um cumprimento de promessa, para algumas pessoas, na semana de Pentecostes representada na condução do tabuleiro por uma moça acompanhada por um rapaz. João e Marta, assim com os Antunes, compartilham com famílias e amigos durante toda festa o seu bodo privado com fartura de pão, vinho e queijo, entre outras iguarias. Portanto, a festa dos Tabuleiros na família liderada por Antônio e São é uma festa de partilha, de fé e de celebração ao Divino Espírito Santo. Só tenho agradecimentos à família Antunes pela colhida na sua casa e por ter compartilhado seus conhecimentos sobre a fantástica Festa dos Tabuleiros.