Com todo respeito: você também?
Entre o caos e o desassossego,
Eixos do mal,
Desordem mundial,
Há tanta gente quilhada.
Com todo respeito
Jorge Palma
(cantor e
compositor português)
Como
pertenço ao grupo de risco, idoso com mais de 70 anos e hipertenso, estou
cumprindo rigorosamente o isolamento social em casa, estou afastado da
afetividade presencial dos familiares e dos amigos, mas acompanhando os
acontecimentos do mundo e aqui do Brasil. E neste isolamento ouvindo a música Com todo
respeito, do grande cantor e compositor português
Jorge Palma, o que me chamou atenção é o conteúdo da letra bastante apropriada
para este período de pandemia. Assim, com todo respeito à Covid-19, vou
continuar em casa e aguardando o final da pandemia.
Sou
professor associado aposentado da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, depois
de trabalhar mais de 30 anos, fiz a opção de ficar mais tempo em casa no meu
tempo de ócio, estudando e produzindo os meus trabalhos. No meu isolamento
social, em época de pandemia, não sinto tanta falta do mundo lá de fora. Estou
mais tempo no espaço privado da casa do que no espaço público da rua. Na minha
casa tenho os espaços, as coisas que mais gosto de fazer, sempre ao lado de
Rosinha minha companheira há mais de 40 anos, minha amiga, mãe dos meus filhos
e um ser humano fantástico que tanto amo. Só lamento que nem todos possam dizer
a mesma coisa. O que mais incomoda é o distanciamento dos meus filhos, das
noras e dos netos, que moram longe da gente e tornou-se impossível visitá-los
em época de pandemia.
Portanto,
ficar em casa é um hábito que tenho muito antes das recomendações para evitar a
Covid-19, até porque já não vou com frequência ao cinema, ao restaurante, ao
boteco, nem a eventos culturais e, visitas e festas na casa de familiares e
amigos, só em ocasiões especialíssimas. Em casa estou quase sempre na
biblioteca, na sala vendo televisão ou assistindo filmes, ouvindo rádio, ou fazendo
tudo ao mesmo tempo até porque não sei ler e nem escrever com silêncio. E tem
mais, quando necessário ajudo nas atividades domésticas, são essas coisas que
atualmente mais gosto de fazer e nunca estou de pijama.
Agora
o mundo está vivendo uma nova experiência com o ataque da Covid-19 que se
espalha por quase todas as localidades provocando uma pandemia que marcará para
sempre a história da sociedade humana no século XXI. Como não poderia deixar de
ser o Brasil é também afetado pelo novo coronavirus que está intrigando o mundo
científico, driblando os meios de comunicação social com a desinformação – fake
news – e os demais campos do conhecimento. A Covid-19, uma coisa invisível
a olho nu, está causando grandes estragos nos sistemas de saúde e econômico em
escala planetária.
A
reboque da crise sanitária provocada pela pandemia evidencia-se a fragilidade
das instituições (saúde, educação, cultura, economia, política e tantas outras),
dá mais visibilidade às desigualdades sociais existentes não só nos países
pobres, mas também nos países ricos. E como consequência do processo de
globalização e dos grandes negócios para atender as demandas desenfreadas de
consumo exigidas pela sociedade atual, estamos vivendo, cada vez mais, grandes
crises em períodos mais próximos uns dos outros. Estão cutucando a natureza
com vara curta.
A
pandemia provocada pelo novo coronavirus pegou as pessoas em cheio, no primeiro
momento, as das classes sociais privilegiadas, as que viajavam a negócios ou
turismo e, gradativamente, foi saindo perigosamente do centro para a periferia.
Aí o mundo ficou assustado com o “diabinho” do novo vírus que não é de esquerda
e nem de direita.
A
Covid-19 é democrática, afeta pessoas de todas as classes sociais, não faz
distinção de gênero, cor, faixa etária, ideologia, religião, umas mais, outras
menos, umas ficam curadas e outras morrem nos leitos dos hospitais públicos e
privados, ou mesmo nos leitos de suas casas. O novo coronavirus infecta quem
está mais próximo e mais vulnerável. O que não é democrático são as
alternativas de atendimento para a maioria das pessoas contaminadas, que ficam
longas horas na fila dos hospitais à espera do atendimento médico ou do acesso
aos respiradores.
Numa
democracia os momentos de crise provocam divergências nas várias instituições
de um país e a crise provocada pela pandemia não é diferente, são intensos os
debates nos meios científicos, especialmente da área da saúde, nos meios econômicos,
nos embates políticos, mas quando a crise provoca o desordenamento gerencial, a
falta de diálogo e de lideranças as consequências são mais devastadoras. É lamentável
o que está acontecendo aqui no Brasil.
A
crise provocada pela Covid-19 tem grandes consequências na economia e afetará a
curto e a médio prazos diferentes países, mas aqui no Brasil, além de queda,
coice, como dizia a minha avó quando o azar é grande demais. Melhor dizendo,
além da crise sanitária e econômica temos o azar de uma crise política grave na
hora errada e desnecessária neste momento em que todos nós somos atingidos pela
pandemia. Pois é, no momento que a tal curva da pandemia ora sobe, ora desce,
aqui o governo federal recomenda uma coisa, os governadores dizem outra coisa,
os prefeitos determinam outra coisa, o poder judiciário não concorda com as
coisas ditas, a OMS afirma que a pandemia na América do Sul ainda não atingiu o
pico e de coisa em coisa, ditas e não ditas, de decretos e mais decretos o Brasil vai caminhando, provavelmente, para
ganhar a tríplice coroa das piores crises conjuntas: sanitária, econômica e política
de 2020. E ainda tem uma quarta crise, a psicológica – do medo – que
atinge pessoas assim como eu, do grupo de risco, que têm medo de sair de casa,
do botão do elevador, do corrimão da escada, de ir ao supermercado, à farmácia,
à padaria, da aproximação de familiares, de amigos, de vizinhos, de espirros, de
tosses e quase tudo que acontece no nosso entorno.
E no vai e vem dessa crise política a crise sanitária prolonga-se e consequentemente a economia do país agrava-se. A crise política é deles, mas contamina todo povo brasileiro.
Estamos sofrendo com essa pandemia, principalmente os marginalizados socialmente. Ou seja, os mais pobres e os invisíveis socioeconômicos. É chegada a hora para soluções e entendimento entre os poderes da república para que todos juntos possam vencer a Covid-19, o nosso inimigo atual. Pois é, não dá mais para esperar, o tempo está passando e a pandemia alongando-se. E com todo respeito, não tenho a minha vida para chafurdo de ninguém. É por isso que continuo procurando o País de São Saruê .
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Sim, eu também... vamos seguindo, driblando os dias...
ResponderExcluirÉ isto mesmo, caro amigo.
ResponderExcluirPor sermos dos grupos de risco, você com mais de 70, eu com mais de 80, tornamo-nos mais imunes a essas ocorrências - o que muitos decerto acharão um contrassenso, mas é a realidade decorrente das muitas experiências vividas, que nos leva a ser mais obedientes ou mais cautelosos e consequentemente mais obedientes ao nosso entorno social, que começa, como não poderia deixar de ser, pelos nossos familiares.
Curtamos, então, os privilégios que a vida nos propicia.
Eu também!
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