Nesta segunda-feira a convite do
professor Marcos Nicolau participei da aula de abertura do semestre letivo de
2016 do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação-PPGC da
Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Foi um reencontro com professores e
alunos para um breve debate sobre as tendências da pesquisa no campo da ciência
da comunicação e também para “matar” a saudade da sala de aula, de onde já
estou afastado há algum tempo. Na ocasião o professor Marcos Nicolau lançou o
livro MetaCiência na prática para lidar com a pesquisa científica, para o qual,
com muita honra, fiz o prefácio e apresentação, que transcrevo a seguir.
Era uma manhã de verão quando recebi um
telefonema do professor Marcos Nicolau convidando-me para fazer a apresentação
deste livro. Fiquei surpreso com o convite porque já estou aposentado há algum
tempo e um pouco fora de forma da vida acadêmica. Mas, como nunca deixei de ser
pesquisador, aceitei o convite. E, como acompanho a formação do professor
Marcos Nicolau, desde a sua iniciação acadêmica na graduação, eu como professor
e ele como aluno, depois como colega na graduação e na pós-graduação sabia que
este livro tinha algo de inovador e, com certeza, trazia contribuições
importantes, diria até provocativas, a partir do título “MetaCiência na
prática: para lidar com a pesquisa cientifica”.
A metaciência é uma disciplina
convergente constituída de reflexões sobre a própria ciência. Melhor dizendo, é
a ciência que estuda a ciência. Marcos puxa esse tema para o campo de pesquisa
da ciência da comunicação, com novas perspectivas. Assim penso eu. O livro,
traz ainda, discussões saudáveis e pertinentes aos aspectos epistemológicos da
metaciência quando tenta solucionar ou minimizar, através do diálogo, a
permanente e quase sempre conflituosa relação entre orientador e orientando.
Neste livro Marcos levanta uma série de
questões principalmente na hora das definições do emprego da metodologia e do
método, da teoria e da prática, que é sem dúvida um dos momentos de grandes
tensões entre orientador e orientando. Aí, vem mais uma salutar provocação do
autor quando explica e constrói um mapa tipológico de cinco possíveis conflitos
existentes em quase todas as etapas da pesquisa, do início até o fim entre
orientador e orientando, e ele vai buscar, novamente, essas explicações no
senso comum. Ou seja, o conflito patrão e empregado, policial e bandido, Faixa
de Gaza, marido e mulher, pai e filho.
Deste modo, este livro, sem ser uma
cartilha e muito menos um manual engessado de como fazer uma pesquisa, ao
contrário, possibilita uma série de reflexões de como lidar com a pesquisa,
apontando caminhos cheios de alternativas para um embate construtivo e quase
sempre sem fim entre orientador e orientando. O autor demonstra os vários
percursos para se pensar sobre a teoria e a pratica, a metodologia e o método,
como ingredientes intrínsecos ao trabalho científico, mas sem restringir, sem
tolher a liberdade e a criatividade dos envolvidos na pesquisa, principalmente
do orientando. E é de uma felicidade enorme quando seleciona uma metáfora como
explicação didática para distinguir o que é metodologia e o que é método.
Distinção essa que é quase sempre um problema para o pesquisador iniciante ao
trabalho cientifico e até mesmo para os mais experientes.
Marcos define a metodologia,
"...como o conjunto de conhecimentos em que se estuda os melhores
procedimentos praticados em determinada área para a produção desse desejado
conhecimento". E explica “...o método como o processo através do qual podemos
alcançar um determinado fim que buscamos conhecer ou desvendar”. Mas, é usando
a metáfora do sujeito que vai morar perto de um lago e planeja a melhor maneira
de pescar camarão. Na exemplificação, através dessa metáfora, Marcos Nicolau
consegue, com bastante clareza, a definição de metodologia e método de
pesquisa, e mais um a vez vai encontrar o exemplo no senso comum.
Adiante, o professor Marcos faz uma
pertinente provocação, bastante interessante quando chama a atenção para as
possíveis e viáveis transgressões, às vezes necessárias, das enfadonhas etapas
de formatação, de normatização da mera exigência estética para deixar o
trabalho científico “arrumadinho”. O autor deixa bem evidente que não se trata
de uma atitude de subversão, de coisa estabanada, de uma aventura metodológica
ou mesmo da transgressão pela transgressão, e sim, de diferentes procedimentos
no decorrer da pesquisa, que emergem conforme as necessidades de cada momento
com o objetivo de melhor obter os resultados desejados. E mais uma vez inova quando
afirma que é o pesquisador quem deve dar adequada função às regras normativas e
formatação do trabalho final. Não é a obediência cega às regras normativas da
ABNT que torna um trabalho científico melhor; o importante é que se tenha o
domínio, o conhecimento das regras e normas vigentes da ABNT, e transgredi-las
quando se tem certeza de estar inovando e criando regras normativas para um
melhor andamento do trabalho científico, nada deve ser gratuito ou ser
impedido. Não são essas novas regras e normatizações, quando justificadas
metodologicamente, que irão tirar o mérito do trabalho de pesquisa.
Com esse pensamento, o autor não quer
dizer que o trabalho científico não tenha regras, não tenha normas e nem rigor
metodológico, mas o trabalho de pesquisa não é uma coisa engessada, não existe
uma linearidade, não é uma receita de bolo com pesos e medidas
pré-estabelecidos, principalmente quando se trata do campo de pesquisa nas
ciências humanas. Acho que é nesse ponto que Marcos avança nos seus questionamentos
e neste livro traz contribuições importantes para uma melhor aproximação entre
orientador e orientando.
Marcos Nicolau, mesmo como um professor
e pesquisador experiente que já atingiu a sua maturidade acadêmica, demonstra,
neste livro, suas inquietudes e as necessidades de se buscar, permanentemente,
alternativas metodológicas e métodos da pesquisa para o campo da ciência da
comunicação.
Tabatinga/PB, verão de 2016
Osvaldo Meira Trigueiro