sábado, 31 de dezembro de 2022
Quando 2022 passar
que deixei pra lá
vou ler o livro marcado das páginas dezenove até quarenta e sete
que deixei pra lá
vou voltar a abraçar familiares e amigos
que deixei pra lá
vou a padaria comprar o pão da tarde
que deixei pra lá
vou ver filmes no cinema na seção da tarde
que deixei pra lá
vou tomar uma taça de vinho da garrafa
que deixei pra lá
vou tomar chopp no boteco
que deixei pra lá
vou fazer a mega sena na casa lotérica
que deixei pra lá
vou apertar o botão do elevador
que deixei pra lá
vou tomar banho de mar
que deixei pra lá
vou caminhar na praia com Rosinha
que deixei pra lá
no próximo ano vou fazer tudo
ou quase tudo
que deixei pra lá
seja bem vindo dois mil e vinte três
e chegue pra cá
Feliz 2023
OMT/2022
quarta-feira, 7 de setembro de 2022
Radiotevê: o Rádio aos 100 anos no mundo digital
Uma das grandes revoluções da comunicação mundial foi o surgimento do rádio no início do século 20 com a histórica transmissão em 1901 entre a Europa e os Estados Unidos. Nos anos 30 do século passado o rádio já era um importante veículo de propaganda política usado pelo Presidente dos Estados Unidos Franklin Roosevelt, por Hitler na Alemanha e por tantos outros. Nos anos 40 e 50 do mesmo século o rádio consolidava-se como importante veículo de comunicação em várias partes do mundo.
A primeira experiência de transmissão radiofônica no Brasil,
oficialmente, ocorreu em 1922, nas comemorações do centenário da independência
com o pronunciamento do então Presidente Epitácio Pessoa. E hoje, se celebra o bicentenário tendo a cobertura do rádio na era digital.
Mas o professor Moacir Barbosa, da Universidade Federal da Paraíba, importante estudioso desse veículo no Brasil, sempre afirmava que a data da
primeira transmissão radiofônica no Brasil, teria sido no Recife em 1919, que originou a Rádio Clube de Pernambuco. “Como se tratou de uma atividade mais
tecnológica, os louros foram endereçados para as transmissões das solenidades
do centenário da independência, com a aquisição de dois transmissores
(tecnologicamente, portanto, o rádio já consolidado) e depois para Roquette
Pinto. A diferença está aí: a experiência de Recife foi técnica, enquanto a do
centenário foi de broadcast (com uma programação definida). Creio que isso não
tira o mérito dos pernambucanos, pois se assim for, a transmissão
intercontinental de um tiro de fuzil feito por Marconi (técnica, apenas), não
poderia ser considerada a primeira transmissão de rádio. Mas é esse o papel deste
importante meio de comunicação, polêmico até nas suas origens” (BARBOSA, 2012).
O Brasil entra, verdadeiramente, na Era do Rádio no
período do Estado Novo que vai de 1937 a 1945 quando Getúlio Vargas cria o
Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP. Até meados da década de 1960 o rádio
viveu o período denominado da Era de Ouro e a partir daí, com o surgimento da televisão é anunciada a morte do rádio para esse novo
veículo de comunicação que tinha som e imagem e o rádio seria passado para
trás, diziam que não haveria mais espaço para ele.
O rádio recebeu anúncio de morte em diferentes épocas da sua
história, sempre sobreviveu e agora está mais vivo do que nunca. Com o
surgimento da televisão a Era de Ouro do Rádio passou a ser a era da TV e mais
uma vez a morte foi anunciada como quadro irreversível. Era a sua morte
cerebral, a sua morte tecnológica, os conteúdos e os profissionais seriam
transferidos para o novo veículo de comunicação que empolgava o Brasil. Os anos
se passaram e mais uma vez o rádio saiu da UTI.
A chegada da internet populariza ainda mais a televisão,
melhor dizendo, a TV digital, a TV móvel se espalha em quase todas as camadas sociais
e volta a polêmica sobre a morte do rádio. E o rádio se transforma
drasticamente, dá o troco, incorpora as novas tecnologias de comunicação,
renova os conteúdos e ressurge como um veículo de comunicação para atender as
exigências do mercado de consumo emergente no país e ocupa espaços utilizando
outras mídias como telefone celular, smartphones, tablets e outros
dispositivos móveis, além da TV.
Ao contrário da visão pessimista de alguns, o que estamos
assistindo na atualidade é o surgimento de uma nova Era do Rádio onde as
convergências de tecnologias e abrangências de conteúdos transformam o rádio em
um veículo também com imagem. Ou seja: “radiotevê”. Melhor dizendo, se nos anos
50 e 60 do século 20 tivemos o aparecimento da “tevêradio”, hoje temos o
“radiotevê”, possibilitado por diferentes suportes tecnológicos e permanecendo
com toda força na era da imagem e do som digital.
O rádio não só se escuta, também se pode ver, inclusive o
nosso programa preferido, em qualquer parte do mundo. É o rádio híbrido com som
e imagem navegando na internet e tantos outros suportes midiáticos. O rádio
criou novas linguagens para atender os diferentes segmentos da sociedade
independente de idade, gênero, classe econômica e cultural.
Não se justifica mais que o apresentador do programa de
rádio diga: pena que não seja TV para o ouvinte ver isso ou
aquilo. No “radiotevê” a audiência não é mais só de ouvintes, é ao
mesmo tempo de ouvintes e telespectadores. Isto é, os constituintes da
recepção dos programas radiofônicos não são mais só ouvintes, agora são
“teleouvintes”, e realmente é um novo prazer, uma redescoberta ouvir e ver esse
rádio que se espalha mundo a fora. O “radiotevê” prolifera nas diferentes redes
para atender a sociedade midiatizada e está cada vez mais ao alcance dos
ouvintes.
terça-feira, 3 de maio de 2022
Luiz Beltrão: os caminhos cruzados da folkcomunicação e a Missão Mário de Andrade de 1938 na Paraíba
Este artigo, publicado na Revista Estação Folclore, da Comissão Sul-Matogrossense de Folclore, tem como objetivo fazer uma análise, mesmo que exploratória, da importância que foi a Missão Mário de Andrade de 1938 nos estados da Paraíba e Pernambuco para Luiz Beltrão formular a Teoria da Folkcomunicação.
Os caminhos cruzados de Luiz Beltrão e Luiz Saia foram encontros fundamentais nos estudos iniciais sobre os ex-votos ancorados em Alceu Maynard Araújo e Luiz da Câmara Cascudo. Como referência as citações sobre a importância do cruzeiro de acontecido e a capelinha da Cruz da Menina na cidade de Patos na Paraíba visitada por Saia em 1938 e Luiz Beltrão em 1976.
Como nasci em Patos, a história da Cruz da Menina sempre fez parte do meu imaginário religioso e cultural desde a infância aos dias atuais. Eram frequentes, na casa dos meus pais e da minha avó materna, as narrativas das histórias de curas das mais diferentes doenças, dos mais variados desejos alcançados por parentes, conhecidos e até de romeiros de fora da freguesia. São incontáveis os fatos narrados através dos ex-votos depositados na sala dos milagres na Cruz da Menina.