quinta-feira, 25 de junho de 2020

Eu tenho medo da Covid-19

Com todo respeito: você também?


Entre o caos e o desassossego,

Eixos do mal,

Desordem mundial,

Há tanta gente quilhada.

Com todo respeito

Jorge Palma

(cantor e compositor português)


Como pertenço ao grupo de risco, idoso com mais de 70 anos e hipertenso, estou cumprindo rigorosamente o isolamento social em casa, estou afastado da afetividade presencial dos familiares e dos amigos, mas acompanhando os acontecimentos do mundo e aqui do Brasil. E neste isolamento ouvindo a música Com todo respeito, do grande cantor e compositor português Jorge Palma, o que me chamou atenção é o conteúdo da letra bastante apropriada para este período de pandemia. Assim, com todo respeito à Covid-19, vou continuar em casa e aguardando o final da pandemia.

Sou professor associado aposentado da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, depois de trabalhar mais de 30 anos, fiz a opção de ficar mais tempo em casa no meu tempo de ócio, estudando e produzindo os meus trabalhos. No meu isolamento social, em época de pandemia, não sinto tanta falta do mundo lá de fora. Estou mais tempo no espaço privado da casa do que no espaço público da rua. Na minha casa tenho os espaços, as coisas que mais gosto de fazer, sempre ao lado de Rosinha minha companheira há mais de 40 anos, minha amiga, mãe dos meus filhos e um ser humano fantástico que tanto amo. Só lamento que nem todos possam dizer a mesma coisa. O que mais incomoda é o distanciamento dos meus filhos, das noras e dos netos, que moram longe da gente e tornou-se impossível visitá-los em época de pandemia.  

Portanto, ficar em casa é um hábito que tenho muito antes das recomendações para evitar a Covid-19, até porque já não vou com frequência ao cinema, ao restaurante, ao boteco, nem a eventos culturais e, visitas e festas na casa de familiares e amigos, só em ocasiões especialíssimas. Em casa estou quase sempre na biblioteca, na sala vendo televisão ou assistindo filmes, ouvindo rádio, ou fazendo tudo ao mesmo tempo até porque não sei ler e nem escrever com silêncio. E tem mais, quando necessário ajudo nas atividades domésticas, são essas coisas que atualmente mais gosto de fazer e nunca estou de pijama.

Agora o mundo está vivendo uma nova experiência com o ataque da Covid-19 que se espalha por quase todas as localidades provocando uma pandemia que marcará para sempre a história da sociedade humana no século XXI. Como não poderia deixar de ser o Brasil é também afetado pelo novo coronavirus que está intrigando o mundo científico, driblando os meios de comunicação social com a desinformação – fake news – e os demais campos do conhecimento. A Covid-19, uma coisa invisível a olho nu, está causando grandes estragos nos sistemas de saúde e econômico em escala planetária.  

A reboque da crise sanitária provocada pela pandemia evidencia-se a fragilidade das instituições (saúde, educação, cultura, economia, política e tantas outras), dá mais visibilidade às desigualdades sociais existentes não só nos países pobres, mas também nos países ricos. E como consequência do processo de globalização e dos grandes negócios para atender as demandas desenfreadas de consumo exigidas pela sociedade atual, estamos vivendo, cada vez mais, grandes crises em períodos mais próximos uns dos outros. Estão cutucando a natureza com vara curta.

A pandemia provocada pelo novo coronavirus pegou as pessoas em cheio, no primeiro momento, as das classes sociais privilegiadas, as que viajavam a negócios ou turismo e, gradativamente, foi saindo perigosamente do centro para a periferia. Aí o mundo ficou assustado com o “diabinho” do novo vírus que não é de esquerda e nem de direita.   

A Covid-19 é democrática, afeta pessoas de todas as classes sociais, não faz distinção de gênero, cor, faixa etária, ideologia, religião, umas mais, outras menos, umas ficam curadas e outras morrem nos leitos dos hospitais públicos e privados, ou mesmo nos leitos de suas casas. O novo coronavirus infecta quem está mais próximo e mais vulnerável. O que não é democrático são as alternativas de atendimento para a maioria das pessoas contaminadas, que ficam longas horas na fila dos hospitais à espera do atendimento médico ou do acesso aos respiradores.

Numa democracia os momentos de crise provocam divergências nas várias instituições de um país e a crise provocada pela pandemia não é diferente, são intensos os debates nos meios científicos, especialmente da área da saúde, nos meios econômicos, nos embates políticos, mas quando a crise provoca o desordenamento gerencial, a falta de diálogo e de lideranças as consequências são mais devastadoras. É lamentável o que está acontecendo aqui no Brasil.

A crise provocada pela Covid-19 tem grandes consequências na economia e afetará a curto e a médio prazos diferentes países, mas aqui no Brasil, além de queda, coice, como dizia a minha avó quando o azar é grande demais. Melhor dizendo, além da crise sanitária e econômica temos o azar de uma crise política grave na hora errada e desnecessária neste momento em que todos nós somos atingidos pela pandemia. Pois é, no momento que a tal curva da pandemia ora sobe, ora desce, aqui o governo federal recomenda uma coisa, os governadores dizem outra coisa, os prefeitos determinam outra coisa, o poder judiciário não concorda com as coisas ditas, a OMS afirma que a pandemia na América do Sul ainda não atingiu o pico e de coisa em coisa, ditas e não ditas,  de decretos e mais decretos  o Brasil vai caminhando, provavelmente, para ganhar a tríplice coroa das piores crises conjuntas: sanitária, econômica e política de 2020. E ainda tem uma quarta crise, a psicológica – do medo – que atinge pessoas assim como eu, do grupo de risco, que têm medo de sair de casa, do botão do elevador, do corrimão da escada, de ir ao supermercado, à farmácia, à padaria, da aproximação de familiares, de amigos, de vizinhos, de espirros, de tosses e quase tudo que acontece no nosso entorno. 

E no vai e vem dessa crise política a crise sanitária prolonga-se e consequentemente a economia do país agrava-se. A crise política é deles, mas contamina todo povo brasileiro. 

Estamos sofrendo com essa pandemia, principalmente os marginalizados socialmente. Ou seja, os mais pobres e os invisíveis socioeconômicos. É chegada a hora para soluções e entendimento entre os poderes da república para que todos juntos possam vencer a Covid-19, o nosso inimigo atual. Pois é, não dá mais para esperar, o tempo está passando e a pandemia alongando-se. E com todo respeito, não tenho a minha vida para chafurdo de ninguém. É por isso que continuo procurando o País de São Saruê .


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3 comentários:

  1. Sim, eu também... vamos seguindo, driblando os dias...

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  2. É isto mesmo, caro amigo.
    Por sermos dos grupos de risco, você com mais de 70, eu com mais de 80, tornamo-nos mais imunes a essas ocorrências - o que muitos decerto acharão um contrassenso, mas é a realidade decorrente das muitas experiências vividas, que nos leva a ser mais obedientes ou mais cautelosos e consequentemente mais obedientes ao nosso entorno social, que começa, como não poderia deixar de ser, pelos nossos familiares.
    Curtamos, então, os privilégios que a vida nos propicia.

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