quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Nordestinos, o Brasil em busca de soluções


Vale a pena ver de novo?

O Jornal Nacional da Rede Globo no dia 21 de novembro exibiu mais uma reportagem da série JN no Ar com o repórter Pedro Bassan mostrando os efeitos da seca em diferentes cidades do Nordeste. E qual era a novidade da reportagem. A distribuição de água por carros- pipa? A mortandade dos animais vítimas da sede e fome? A fuga do sertanejo sofrido para outras regiões? A falta de decisões políticas? Qual era mesmo a novidade? Nada disso é novidade, são coisas que acontecem há muitos anos e todas as vezes que o semiárido é atingido por mais um período de seca tudo isso volta à tona. A seca se repete regularmente no Nordeste e quase nada muda. A única novidade na reportagem é a qualidade das imagens que atualmente são exibidas em HD. 
Fonte: Relatório "Nordestinos", Rede Globo/1984
Em 1984, há 28 anos, a Rede Globo primeiro lançou uma campanha Nordestinos, Urgente, que tinha como objetivo a arrecadação de alimentos e água para matar a fome e a sede dos que estavam sofrendo com mais um longo período de seca. Foi uma comoção nacional e toneladas de donativos chegavam ao Nordeste para minimizar, mesmo que temporariamente, a fome e a sede dos nordestinos pobres do semiárido. A equipe responsável pela campanha Nordestinos, Urgente ao avaliar os resultados da mobilização nacional de doações, verifica que são efêmeros, emocionais, assistencialistas e nada mudaria a curto ou longo prazo a situação na região. Ou seja, o problema no Nordeste não seria resolvido apenas com doações de alimentos e água temporariamente, ou com subsídios, com obras emergenciais ou até mesmo com esmolas.

No mesmo ano a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil publica um documento denunciando a miséria, as ameaças constantes de genocídio do povo nordestino, a inoperância das autoridades e dos programas oficiais.
Frente à situação pela qual passava o Nordeste em 1984 a Rede Globo de Televisão lançou o projeto Nordestinos: O Brasil em busca de soluções. E teve o apoio de 11 universidades nordestinas na sua execução. Nessa época eu fazia mestrado em Administração Rural e Comunicação Rural na Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE, um das universidades envolvidas no projeto e como aluno fiquei interessado em acompanhar a mobilização liderada pela Rede Globo de Televisão. O projeto teve o seu lançamento em cadeia nacional com o pronunciamento do Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Eugênio Sales, nordestino do Rio Grande do Norte, que conhecia os problemas do semiárido. Foram 50 dias de atividades no campo com a participação de professores, pesquisadores e técnicos, das universidades conveniadas, que percorreram 7.700 quilômetros coletando informações sobre os efeitos da seca em oito estados e vários municípios do semiárido. 
Fonte: Relatório "Nordestinos", Rede Globo/1984
O trabalho de campo teve como objetivo coletar testemunhos, opiniões e informações de autoridades e especialmente do povo, mais de seis mil pessoas contaram suas histórias sobre a miséria, a fome e o abandono do semiárido pelas autoridades, sobre as questões da terra e as relações de trabalho, sobre as famigeradas frentes de emergências, sobre o uso da água, das novas tecnologias e dos agrotóxicos, sobre as questões da comercialização e cooperativismo, sobre o crédito agrícola, sobre a educação, a saúde, a nutrição e sobre tantos outros problemas. 
O relatório do projeto Nordestinos: o Brasil em busca de soluções, lá nas suas conclusões afirma:
A população sertaneja está cansada de promessas e frustrações  Quando se fala em falta de decisão política para resolver os problemas urgentes dos sertões, estranha-se. Afinal de contas, nos últimos anos, o Nordeste tem tido um peso politico considerável dentro do partido governista e seus representantes têm ocupado cargos importantes. A Prova dos Nove foi feita: não basta ter representação política formal: é preciso a mobilidade de todos. Sem mobilização democrática não haverá transformação social. Esta é a política que os sertões precisam: participação e cidadania (Projeto Nordestinos: o Brasil em busca de soluções. Relatório de Viagem ao Sertão. Rede Globo, 1984, p. 26). 
   
Nessa nova série de reportagens sobre o Nordeste o Jornal Nacional (TV Globo), agora no dia 26 de novembro, mostrou ao Brasil o desperdício de recursos públicos na tão esperada obra de transposição do Rio São Francisco. O que estamos assistindo no Jornal Nacional é um retorno ao passado e que não é simulacro, não se trata de ficção é a pura realidade. O documento então publicado, há 28 anos atrás, pela Rede Globo e as 11 universidades nordestinas continua atual e os debates sobre os problemas no Nordeste e especialmente no semiárido se repetem. Ou seja, passaram os anos e quase nado mudou e a nossa esperança está na nossa fé, como enfatizou a ministra do Planejamento Miriam Belchior (...) que as pessoas não percam a confiança. Aquele pessoal tem fé. E o que eu posso dizer pra eles é que a água vai chegar, sim, em 2015.
 Ah! Bom, então tá, com fé esperamos.
Agora que se aproxima o fim de 2012, vale a pena ver de novo tudo que o JN nos mostra em rede nacional, a pior seca dos últimos 30 anos. Plimplim!!!

4 comentários:

  1. Falar de anos ou décadas de secas chega a ser pejorativo, a seca nordestina é secular, conhecida e registradas desde os primeiros anos do descobrimento do Brasil. As medidas paliativas que os governantes apresentam nos indicam que precisamos de mais do que fé para uma solução definitiva. A comparação do rigor da seca deste ano com secas passadas nada acrescenta. Nos últimos 500 anos tivemos 76 secas que podem ser consideradas rigorosas. A convivência do Nordestino com a seca e seus efeitos é o que deve ser pesquisados nas Universidades e Institutos de Pesquisas.É claro que a transposição de São Francisco trará benefícios incalculáveis para uma parte do semiárido.Luiz Cavalcanti

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  2. É isto mesmo, caro amigo.
    Ao que me é dado relembrar, essas manifestações midiáticasveem desde 1950, quando sêca semelhante também causou sérios danos à região e levou o governo central a convocar o Min. José Américo para integrar o poder central e combatê-la.
    Dessa época, lembro que no "sul maravilha" de Henfil apenas a voz do jorn. Carlos Lacerda se levantou no Congresso Nacional para reclamar providências das autoridades federais, providências essas que, me parece, começaram a se esboçar com a convocação do então Gov. José Américo para ocupar o Ministério da Viação e Obras Públicas.
    Essa gestão, ao que me lembre (acredito que o historiador Joaquim Osterne tenha dados mais consistentes sobre o assunto), levou a um dos períodos mais produtivos do DNOCS, que sempre foi - até tempos atrás, um dos órgãos estatais mais capacitado para combater esse fenômeno.
    Lembro, ainda, de uma briga midiática que envolveu meu pai, então assessor de imprensa do Gov. José Américo; o prof. Oscar de Castro, então diretor do Deptº de Serviço Social do EStado e coordenador das ações de assistência aos flagelados e o jornalista e deputado federal Carlos Lacerda com o diretor da COAP, Benjamin Cabello, que enviou para nosso Estado uma grande partida de feijão, já imprestável para consumo humano, fato denunciado pelo prof. Oscar, denúncia essa levada para os jornais do sul pelo meu pai, então correspondente de agência de notícias Asapress e encampada por Carlos Lacerda, que abriu uma das suas muitas campanhas vigorosas contra Getúlio, a quem acusou de insensível ao sofrimento dos nordestinos, campanha essa que talvez tenha contribuído consideravelmente para a convocação de José Américo, para integrar o poder central da República.
    Parece que hoje nos falta um Carlos Lacerda para puxar as orelhas da ministra Miriam Belchior e sua insensibilidade.
    Parece que os tempos mudaram e para pior...

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  3. Excelente post.
    Vou mandar para Globo, excelente.
    Adorei.
    Abs
    Érica

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  4. Meu caro Osvaldo:
    Excelente matéria sobre a situação lastimável em que se encontram as obras de desvio do velho Chico, para mitigar as agruras causadas aos nossos irmãos nordestinos pelas seculares secas do nordeste. Estou repassando- a para colegas, que, comigo, ainda como engenheiro da ELETROBRAS, nos posicionamos a favor do projeto, enfrentando poderosos interesses não sócio humanitários, de diversos setores. Aproveito, para reanimá-lo quanto à retomada do projeto dos Reisados Paraibanos, essencial para fazer parte do nosso portal "REISADOS BRASILEIROS", em fase de construção , cuja primeira etapa irá ao ar em meados de 2013. Com já o informei, o domínio adquirido ( www.reisadosbraileiros.com), breve lhe enviarei: o LOGUS, FRONTPAGE e a ARQUITETURA BÁSICA. Enquanto isso, se diverte com a tradição da "VACA DE FOGO" ( anexo), espetáculo que recolhi em nossa recente missão pela Península Ibérica. Lembrei-me bastante de ocorrências pirotécnicas nas festas de São João em Sergipe. Abração. Affonso

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