Chega a época das festas juninas no Brasil e continua a polêmica sobre
as apresentações das quadrilhas nos festivais e encontros promovidos por órgãos públicos ou privados, se são
tradicionais, se são estilizadas, se estão mais parecidas com as escolas de
samba do Rio de Janeiro ou mesmo com blocos de carnaval. Não importa o que
seja, mas que são apresentações que atraem público, elevam a autoestima dos
seus brincantes, na maioria jovens que moram nas periferias das grandes
cidades, disso tenho certeza, principalmente, depois que venho observando a evolução
desses grupos organizados para celebrar os santos populares do mês de junho:
São Antônio, São João e São Pedro.
Os festivais, os encontros de quadrilhas
juninas se espalham por quase toda a região nordestina como um novo espetáculo
e todo o espetáculo tem três componentes fundamentais: o espaço, o tempo e o
movimento de apresentação. Mas, na sociedade contemporânea emerge um quarto
componente importante, o midiático, que quase sempre determina um novo espaço,
um novo tempo e um novo movimento para as apresentações dos espetáculos,
especialmente para as transmissões da televisão ao vivo, aliás, isso acontece
no carnaval do Sambódromo, no festival do Boi em Parintins, na festa de Rodeio
em Barretos e em tantas outras festas populares brasileiras.
Evidentemente
as festas juninas no Nordeste não poderiam ficar de fora do jogo de interesse
da mídia e principalmente da televisão.
Antes de criticar as atuais quadrilhas é necessário conhecer quais são
as origens das nossas festas populares, de onde vieram as nossas manifestações
culturais tradicionais, como surgiram na Península Ibérica e como chegaram no
Brasil. São questionamentos que necessitam de melhores reflexões dos
estudiosos, dos pesquisadores e dos agentes responsáveis pela administração das
políticas públicas para as culturas tradicionais, por que o povo está
interessado mesmo é em festejar e celebrar esses santos populares.
Sabe-se, através da
história, que na Idade Média os povos celebravam festas para os deuses pagãos
nas mudanças das estações do ano, no antigo Egito em homenagem a deusa da
castidade Isis, em Roma ao deus do vinho Baco e assim foram se espalhando as
festas dionisíacas, lupercais, saturnais, charivaris ou assuadas que eram
festas com suas inversões dos valores morais, com os cortejos jocosos, das
alegorias e das extravagâncias. Ou seja, as festas das mudanças de estações do
ano, que predominaram na Europa Antiga por longos períodos, quase sempre foram
espetáculos de carnavalizações, das fantasias grotescas, com muitas cores,
irreverências e de personagens patéticas. A passagem da primavera para o verão
é a melhor época para a colheita das plantas mágicas com seus poderes de cura e
nesta agenda de festividades, das crenças populares estavam as comemorações ao
solstício de verão no hemisfério norte e aqui chegavam com os colonizadores em forma de festa
religiosa e profana não mais para comemorar a mudança de estação, achegada do
inverno no hemisfério sul, que sempre ocorre entre os dias 20 e 24 de junho,
mas para celebrar os santos católicos: Santo Antônio, São João e São Pedro.
Portanto, não basta fazer crítica, é necessário entender a evolução das nossas
festas populares, situá-las nos diferentes contextos socioeconômicos, nos
espaços/tempos/movimentos do público e privado, da casa e da rua, cada vez mais
influenciada pela sociedade midiática. Com a globalização cultural ao invés da
propalada extinção das culturas tradicionais o que estamos vendo são suas
ressignificações para atender as demandas de consumo de bens culturais, para o
turismo e para a mídia, com suas formas hibridas do global/local. Aqui chamo
atenção para as quadrilhas juninas como um espetáculo popular em evolução, com
torcidas organizadas e que atraem grandes públicos nas suas apresentações.
Este
ano o concurso de quadrilhas juninas de João Pessoa ocorre na praça Dom Adauto,
mais conhecida como a praça do Bispo. Durante três noites mais de 20 grupos se
apresentam e as três primeiras classificadas disputam o campeonato paraibano
que será realizado no Parque do Povo, em Campina Grande.
E em festejos juninos não pode faltar forró nos seus diversos gêneros:
pé-de-serra, universitário, de plástico e eletrônico entre outros. É nesse “ritmo”
que participarei da banca examinadora da defesa de dissertação da mestranda
Libny Silva Freire na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Infelizmente, caro amigo, a realidade é esta mesma.
ResponderExcluirA globalização midiática de nosso País nos conduziu a isto.
Ainda gosto do S. João (agora mesmo estou regressando de Gravatá, onde passei - com Raquel, esses dias), mas continuo tradicionalista. Não me conformo com a transformação de nossas quadrilhas em escolas de samba, especialmente com esses concursos e campeonatos. Não faz muito tempo, ainda encontrávamos as quadrilhas como parte dos festejos juninos das comunidades ou até mesmo de uma rua em um bairro mais pobre das cidades, cujos moradores "curtiam" a festa joanina com alegria, quase sempre erigindo pequeno pavilhão que servia para a quadrilha e para um forró, digamos, doméstico.
Hoje isto praticamente desapareceu...
Não tenho veleidades de chegar a posição de mando em estado ou município e, assim, não há ameaças a essa evolução, pois se autoridade a quo recusaria ajuda e licença para que elas prosperassem.
Um abraço , com parabéns pelos trabalhos que nos chegam pelo blog.
Arael
Caro Osvaldo,
ResponderExcluirpude, finalmente, fazer uma referência à sua reportagem e reflexão sobr as festas juninas portuguesas, que fez recentemente em seu blog.
Espero poder voltar ao assunto.
Se escrever mais alguma coisa, não se esqueça de dar conhecimento.
Saudações amigas,
Manuel Pinto
CECS - Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade Communication & Society Research Centre Universidade do Minho - Campus de Gualtar
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