domingo, 6 de novembro de 2011

Patos 108 e eu 64 anos, puxa vida!

num domingo de novembro

Realmente é uma vida puxada, porém feliz, chegar aos 64 anos ter nascido lá em Patos pouco antes da virada da metade do século passado, melhor dizendo em novembro de 1947. Vocês imaginam como era Patos nessa época? Uma cidade localizada no sertão da Paraíba castigada pelos constantes períodos de seca, com sistemas precários de esgotamento sanitário, de água corrente, de energia elétrica e comunicação com o mundo de fora. Mas, Patos já era uma cidade emergente no sertão nordestino como polo de produção de algodão e de gado. Tive muita sorte ter nascido na família Meira Trigueiro que não fazia parte dos mais pobres da cidade e, por isso mesmo, tive várias oportunidades na vida e aproveitei todas as possibilidades ofertadas pela minha família e pela minha cidade. O que infelizmente não aconteceu com alguns dos meus contemporâneos de escola, das peladas no campo do óleo que ficava próximo a usina do motor da luz, onde fica atualmente o Hotel JK, no campo da Cica, no campo da Rua Pedro Firmino, ou ainda dos companheiros que serviram o Tiro de Guerra comigo.


A vida é assim mesmo cada um percorre o seu caminho, temos que ir à luta uns com mais e outros menos chances. Mas, muitos desses contemporâneos tiveram a rara sorte, assim como eu, de testemunhar diferentes épocas, passar por diferentes experiências nos caminhos que nos levaram a continuar vivendo, superando as dificuldades e de chegar à segunda década do século XXI com mais de 60 anos. Tive rara sorte de viver experiências extraordinárias e testemunhar mudanças que até hoje são verdadeiras lições de aprendizado, coisas aparentemente simples que fizeram parte da minha vida, da minha condição humana. Foram épocas tão diferentes umas das outras que continuam marcadas na minha memória da infância e da maturidade de adulto. Quando nasci Patos já tinha o Colégio Diocesano, o Colégio Cristo Rei, o Grupo Escolar Rio Branco, Cine Eldorado, o Hospital Regional, a moderna Escola de Datilografia Remington, o Ditador da Moda, estava surgindo a Rádio Espinharas, consolidava-se o comércio da Rua Grande que atraía compradores de toda a região. Era uma pequena cidade, mas repleta de novidades, foi lá que conheci a caneta esferográfica, uma das maiores mudanças da minha época de escola primária, foi quando deixei de usar a caneta-tinteiro, fui testemunha da chegada da energia da hidroelétrica de Coremas e depois de Paulo Afonso, testemunhei a chegada do telefone no espaço doméstico, a fundação da Associação Universitária de Patos, a Casa do Estudante e do Fortelândia. Foi lá que andei a primeira vez de bicicleta e de lambreta, foi onde andei a primeira vez de carro e onde aprendi a dirigir e bem mais tarde testemunhei a chegada da televisão. 


Em Patos fui batizado e o meu padrinho foi o então prefeito Clovis Sátiro e o meu nome é uma homenagem ao então governador da Paraíba Osvaldo Trigueiro, udenistas assim como o meu pai, ou seja, o meu rito de passagem de pagão ao cristianismo foi um evento político na cidade. Foi em Patos que fiz a primeira comunhão, tive a minha primeira namorada e perdi a virgindade. Agora, um pouco distante da minha cidade natal e em plena maturidade passei a refletir melhor todas essas mudanças na minha vida. São experiências como a conquista do diploma de datilografia nos anos 60 do século passado e o diploma de doutor em ciências da comunicação em 2004 no século da globalização da comunicação. Nada disso foi uma tarefa fácil, mas cada conquista teve sua importância na história da minha vida sentimental e profissional representadas pelos períodos da caneta-tinteiro, caneta-esferográfica e atualmente da caneta-digital. 


Todas essas coisas, todos esses objetos tecnológicos, todos esses ritos de passagem fazem parte do meu universo simbólico. Só lembrando mais uma vez, tudo teve início na família Meira Trigueiro e lá na cidade onde nasci. Agora, com 64 anos, uma companheira “luso-brasileira” de mais de 30 anos, dois filhos e um neto, depois de plantar várias árvores na Granja Matuetê e escrever livros, pretendo refletir sobre todas as mudanças pelas quais estou passando, depois de testemunhar as grandes transformações das novas tecnologias da comunicação, as grandes mudanças socioculturais ao longo de todos esses anos. O que quero mais na vida é agradecer a Deus por tudo que consegui até agora. Viva a caneta-tinteiro, viva a caneta-esferográfica e viva a caneta-digital.

5 comentários:

  1. E viva a sua entrada na vida digital, Osvaldo.

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  2. Show de bola, professor. Tradição e modernidade, tudo num balaio só.

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  3. Valeu, prof. Osvaldo, e mais uma vez parabéns pelo aniversário,

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