quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Patos comemora 110 anos de cidade

Hoje acordei com uma saudade danada da minha querida Patos, que chega aos 110 anos de elevação à categoria de cidade, como um importante polo de desenvolvimento do Estado e como sede Geoadmistrativa da 6ª Região que converge mais de 22 municípios. Patos, com seus mais de 100 mil habitantes é, também, um centro de referência de ensino médio e universitário, mas que ainda sente a falta de um museu e um teatro que dignifique a produção e divulgação artística da cidade e até mesmo da região.
Entravam prefeitos e saiam prefeitos, promessas e mais promessas eram feitas e a cidade ia ficando adulta e omissa em relação ao seu desenvolvimento cultural. Não podemos compreender desenvolvimento socioeconômico e educacional fora do contexto do desenvolvimento cultural. Ou seja, educação e cultura são coisas indissociáveis, estão imbricadas uma na outra.
Acordei sim, com uma saudade danada e por não estar lá para ser testemunha ocular da assinatura da Ordem de Serviço para a construção do Teatro Municipal Governador Ernani Satyro. São 110 anos de elevação à cidade e foi na casa da Rua Pedro Firmino de número 110, bem em frente ao Cine Teatro Eldorado, que nasci e passei um boa parte da minha vida, assistindo e dando a minha contribuição, mesmo que pequena, ao desenvolvimento cultural da minha querida Patos das Espinharas. Foi no Eldorado que com o Teatro Amador de Patos, e a colaboração e grande incentivo do “seu” Agripino Cavalcanti, encenamos várias peças como "Canudos", “Auto da compadecida”, “Cuidado senão eu conto”, “Morte e vida Severina”, entre outras.

Parabéns prefeita Francisca Motta por importante atitude. O seu nome ficará na história da cidade por muitas gerações e por corrigir essa lacuna na área cultural.            

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Festa dos Tabuleiros em Tomar: uma celebração ao Divino Espírito Santo

A Festa dos Tabuleiros em Tomar (Portugal), que acontece de quatro em quatro anos, é uma das maiores manifestações religiosas ao Divino Espírito Santo, em toda a Península Ibérica. A última festa aconteceu de 2 a 11 de julho de 2011 e eu estava lá para acompanhar e registrar os grandes momentos. Realmente impressiona o envolvimento da comunidade e da cidade na organização e realização da festa sagrada e profana.

Tomar é uma das mais antigas cidades de Portugal, nasceu próximo ao rio Nabão, pertence ao Distrito de Santarém, sua fundação não tem uma data exata, porém há registro que os primeiros edifícios foram erguidos por volta de 1160. A cidade se desenvolveu no entorno do Castelo Templário e do Convento de Cristo. Destacam-se ainda, como monumentos importantes, as igrejas de São João Batista, de Santa Maria dos Olivais, a de Santa Iria e o aqueduto, entre outros.
A cidade de Tomar, distante 117 quilômetros de Lisboa, 68 de Santarém e 21 de Fátima, com fácil acesso de automóvel, de ônibus ou de trem, está no roteiro turístico do patrimônio mundial, no caminho dos tesouros dos Templários, da demanda do Graal e da Fé. É nesses cenários entre ruas, praças e pontes antigas que acontece a Festa dos Tabuleiros.  
O homem comemora há centenas de anos os seus ritos de passagem e relembra as suas datas festivas sagradas, profanas e de agradecimento aos deuses pagãos. Essas evoluções e evocações chegam até os dias atuais já incorporadas aos nossos calendários de tradição religiosa e festiva do catolicismo popular, que se espalharam por toda a Península Ibérica e chegam ao Brasil com os colonizadores portugueses.
Ao longo do tempo essas práticas sempre fizeram parte dos processos das transformações culturais e religiosas da sociedade humana e das suas relações simbólicas, dando origem aos diversos protagonistas e suas performances nos festejos populares.
As festas populares tradicionais são acontecimentos identificadores dos fatos locais, são celebrações simbólicas das diversas relações sociais vivenciadas por uma comunidade nos territórios sagrados e profanos. É nas observações e nas interpretações das festas populares que se descobre os códigos, as regras e os estatutos construtores do ensinar e aprender as diversidades da cultura, consequentemente, o desenvolvimento da identidade de um povo. 

As festas populares rurais e urbanas passaram e continuam passando por importantes transformações culturais nos diferentes momentos da história da sociedade humana, num passado mais remoto, com a instituição da quaresma, depois com as navegações e os grandes descobrimentos de novas terras. 
Ou seja, o mundo está constantemente criando, reinventando novos significados culturais através das festas sagradas e profanas, agora inseridas cada vez mais no contexto da sociedade midiatizada. 
Sem dúvida as festas populares não poderiam ficar fora desse novo contexto de produção e consumo de bens culturais locais e globais da sociedade contemporânea.
As manifestações culturais tradicionais dos ciclos: natalino, carnavalesco, pascal e junino, entre tantas outras festas populares, são “afetadas” cada vez mais pelos interesses da indústria cultural. Mas, mesmo assim, continuam mantendo suas tradições e vivendo experiências novas, como sempre foi nos diferentes tempos históricos e culturais. 
São as imbricações dos ritos e rituais tradicionais e contemporâneos celebrados nos interiores das festas populares que temperam os vínculos sociais, as vinculações culturais e as conversações com os outros de fora, assim como o turismo e a mídia. São esses movimentos que vão constituindo as identidades e os estatutos de convivência e conveniência cultural do local com a cultura global. 
A Festa dos Tabuleiros, uma antiga celebração ao Divino Espírito Santo na sua forma mais tradicional acontece deste o século XII, tem suas origens nas tradições das festas pagãs aos deuses da natureza, possivelmente nas festas das colheitas para a deusa Ceres e depois cristianizada pela Rainha Santa D. Isabel de Portugal. 
O grande momento da festa acontecia no Domingo de Pentecostes, quando ricos e pobres celebravam o dia da igualdade de todos perante Deus, era uma comemoração de ação de graças e de oferendas. Ao longo do tempo a festa foi ganhando novos significados, outras características e, na atualidade, é um megaevento, um grande espetáculo midiático e turístico. 
Mas, mesmo assim, na sua estrutura, na sua organização existem traços fortes das tradições mais remotas, dos significados que cada cerimônia simboliza em homenagem ao Divino Espirito Santo.
O período mais intenso da festa é no mês de julho, mas o início das festividades acontece com o desfile das Coroas e Pendões do Espírito Santo no Domingo de Páscoa pelas ruas onde o Cortejo dos Tabuleiros passará na época da festa propriamente dita e já com as ruas tradicionalmente ornamentadas.  
O desfile ou procissão dos tabuleiros, conduzidos por rapazes e moças, é o momento alto da festa, aguardado com grande expectativa pela população da cidade e de inúmeros turistas. São cerca de 600 tabuleiros, representando as diversas freguesias, ornamentados com pães, fitas e flores que dão um colorido especial e no topo uma coroa com a pomba símbolo do Espírito Santo ou a Cruz da Ordem do Templo.
Chama atenção é que o tabuleiro deve ter o tamanho da moça que o conduz na cabeça durante todo o desfile de aproximadamente 5 quilômetros, acompanhada por um rapaz “o ajudante” que a auxilia  na condução do tabuleiro. 
O início do cortejo é anunciado pelo pipocar dos fogos e a música das filarmônicas e dos gaiteiros.
Vale a pena conhecer a cidade histórica de Tomar em qualquer época, mas na Festa dos Tabuleiros a cidade ganha um colorido todo especial, as ruas enfeitadas, músicas tradicionais e contemporâneas enchem seus espaços de alegria, a sua rica gastronomia regada com bom vinho e azeite e o afeto dos seus habitantes encantam a todos que a visitam. 
Com este artigo estou apenas fazendo um rápido registro de uma das manifestações do catolicismo popular ao Divino Espírito Santo mais impressionante que já observei até hoje.





Fotos do autor.