A sociedade humana,mesmo com o desenvolvimento das novas tecnologias do mundo globalizado,continua a tradição de depositar oferendas nos santuários ou em lugares
considerados milagrosos, o desejo do devoto é realmente de fazer a caminhada
até o local de sua devoção. Nas últimas décadas as formas de representação
destas manifestações religiosas, promessas ou ex-votos, estão se modificando
para atender novos desejos de consumo dos devotos inseridos na sociedade
midiatizada.
Este ano em João Pessoa
acontece a 248ª Romaria de Nossa Senhora da Penha que, a exemplo dos últimos
anos, deverá ser acompanhada por cerca de 200 mil pessoas, sem dúvida a maior
manifestação do catolicismo popular da Paraíba e um das maiores do Nordeste, é
um exemplo evidente da capacidade de recriação e, sobretudo, de resistência de
uma manifestação religiosa tradicional que desafia o mundo globalizado. São
pagadores de promessas, romeiros que usam cada vez mais a Folkcomunicação como
sistema de diálogo e medição com a sua santa de devoção.
O Santuário de Nossa
Senhora da Penha é um importante exemplo desses novos processos de pagamento de
promessas que são depositadas na casa dos milagres em agradecimento pela graça
alcançada. É grande a quantidade de promessas (ex-votos) em gesso, parafina, plástico,
madeira, fotografias, CDs e DVDs, anúncios em jornais, propagandas políticas e
tantas outras manifestações Folkmidiáticas expostas no Santuário da Penha como
testemunhos de acontecimentos de uma sociedade.
São representações de
partes do corpo humano significando curas de doenças, são representações de
casas através de “maquetes”, fotografias de ritos de passagens tradicionais e
contemporâneos, assim como nascimentos e casamentos, a aquisições de bens de
consumo como carros, motos, TVs, CDs e DVD Players. Na sala dos milagres do
Santuário de Nossa Senhora da Penha o antigo e o novo, o tradicional e o
moderno estão representados nas promessas (ex-votos).
Com a globalização do mundo contemporâneo, ao invés da tão propagada homogeneização cultural, do desaparecimento das culturas locais, o que estamos assistindo é uma ressignificação das manifestações culturais locais e consequentemente das manifestações folclóricas e das culturas populares. Um exemplo dessas novas clivagens é o ressurgimento da milenar manifestação religiosa de pagamento de promessas em santuários, capelas, grutas, cemitérios, cruzes de beiras de estadas, cruzeiros nos altos dos morros e em tantos outros lugares de romarias que se espalham em áreas urbanas e rurais de todas as regiões do país.
Com a globalização do mundo contemporâneo, ao invés da tão propagada homogeneização cultural, do desaparecimento das culturas locais, o que estamos assistindo é uma ressignificação das manifestações culturais locais e consequentemente das manifestações folclóricas e das culturas populares. Um exemplo dessas novas clivagens é o ressurgimento da milenar manifestação religiosa de pagamento de promessas em santuários, capelas, grutas, cemitérios, cruzes de beiras de estadas, cruzeiros nos altos dos morros e em tantos outros lugares de romarias que se espalham em áreas urbanas e rurais de todas as regiões do país.
A identidade cultural
do local é uma realidade construída e partilhada com os mais próximos na troca
de experiência face a face, porque é uma troca real de conhecimentos vivida
cotidianamente, mas cada vez mais conectada nas redes de comunicação do mundo
globalizado. O que existe são tensões entre o global e o local na
reconfiguração das identidades locais com as suas representações vinculadas às
formas e características de cada lugar e a Romaria de Nossa Senhora da Penha
consolida-se na atualidade superando essas diversidades. Foi assim que Luiz Beltrão
concebeu a sua teoria da Folkcomunicação pesquisando as romarias e os ex-votos
e os diferentes sistemas de comunicação entre o romeiro e o seu santo de
devoção.
O
pagamento de promessas através de ex-votos é uma prática universal cujas origens
se perderam no tempo, sabe-se que 3000 anos A.C. os povos do Mediterrâneo já
ofertavam objetos e animais às divindades como forma de agradecimento. Portanto,
o ex-voto depositado em algum lugar considerado sagrado pelo devoto é uma forma
prática de pagamento de uma graça alcançada, mas cada expressão, cada conteúdo
transportado em cada uma de suas formas antropomorfas (representações do corpo
humano ou de parte dele), zoomorfas (as representações de animais ou parte
deles) e outras formas de representações (de pessoas ou coisas através de
fitas, velas, vestuários, mechas de cabelo, peças utilitárias de uso doméstico,
aparelhos ortopédicos, fotografias, cartas, publicações em jornais), são fontes
de informação da cultura de um povo. Câmara Cascuda, em carta datada de 1965 e
endereçada a Luiz Beltrão, diz:
“Seu plano, Luiz Beltrão, de estudar
o EX–VOTO é um soberbo programa de necessidade imediata. O “Ex-voto” é uma voz
informadora da cultura coletiva, no tempo e no espaço, tão legítima e preciosa
como uma parafernália arqueológica. Vale muito mais do que uma coleção de
crânios, com suas respectivas e graves medições classificadoras. É um dos mais
impressionantes e autênticos documentos da mentalidade popular, do Neolítico
aos nossos dias. E sempre contemporâneos, verdadeiros e fiéis.”
O
ex-voto é muito mais do que um bem cultural material ou imaterial de
significado de pagamento de promessa, também é necessário se considerar os seus
valores antropológico, etnográfico, estético e como veículo Folkcomunicacional.
São portadores de informações e de opiniões de parte das populações rurais e
urbanas brasileiras.
Chamo
atenção, mais uma vez, para o artigo de Luiz Beltrão (1965) sobre o ex-voto
como veículo jornalístico publicado há 46 anos, e continuamos a nos perguntar
qual o significado do ex-voto. Que sentido tem, além do religioso, esse ex-voto
depositado nos lugares de peregrinações e de romarias? Qual é a importância dos
ex-votos como meios de comunicação popular – folkcomunicacionais, entre o
pagador de promessa e o seu santo de devoção no contexto da sociedade
midiatizada? Como decodificar, como interpretar os sentidos das mensagens neles
expressas, nas performances dos protagonistas e dos seus coadjuvantes nas
encenações ritualistas nos territórios sagrados e profanos das festas
religiosas? Continua sendo um importante campo de investigação da
Folkcomunicação e que não se esgota com a globalização cultural.
A
sociedade midiatizada não consegue unificar as diferentes culturas porque são
diversos os espaços e os tempos históricos, socioculturais e, neste caso, da
religiosidade popular. Para provar tudo isso basta acompanhar e participar da
Romaria de Nossa Senhora da Penha que acontece no último domingo de novembro
saindo da Igreja de Nossa Senhora de Lurdes, no centro de João Pessoa, com
destino ao Santuário da Penha, num percurso de 14 km.
Osvaldo, como sempre seu texto é maravilhoso! Parabéns.
ResponderExcluirMarcelo