Fui a primeira vez a Portugal
no ano de 1986, o país acabava de entrar na CEE – Comunidade Econômica Europeia
e iniciava um grande processo de modernização socioeconômica, de desenvolvendo
educacional e cultural, de estabilidade política que consolidaria o regime democrático. Conheci
Portugal na época dessas grandes mudanças, do Escudo ao Euro, das acanhadas
estradas para as autoestradas que cortam o país de norte a sul e com áreas de
serviços maravilhosas.
Lisboa-Torre de Belém |
Lisboa-Ascensor do Lavra |
Isso é para dizer que fomos
várias vezes a Portugal e já perdi até a conta.
Vamos com muito mais frequência para descansar, visitar o filho e a nora,
os demais familiares, os muitos amigos e também fugir desse clima de tensão que
vivemos nos últimos anos aqui no Brasil. São as crises políticas, econômicas e o
que mais nos assusta é a falta de segurança. É esse medo constante que, mesmo
aposentados, quando vamos a Portugal é como se estivemos de férias porque
viajamos de carro de ônibus e de trem para várias cidades, vilas, aldeias, passeamos
nas ruas, praças, travessas, frequentamos lugares de dia ou de noite e a preocupação
de ser furtado ou assaltado é praticamente zero, até mesmo nas grandes cidades
como Lisboa e Porto.
Posso aqui dar o meu testemunho
porque acompanhei as grandes mudanças que aconteceram nos anos 80 e 90 do
século passado e agora continuo acompanhando essas importantes transformações
em Portugal que passou de um país atrasado na Europa para ser atualmente um
importante destino turístico, de oferta de empregos e de boas universidades
para os brasileiros. O aeroporto de Lisboa ou do Porto já não são apenas para
as conexões dos brasileiros com destinos a outros países europeus e muito menos
cidades dormitórios enquanto aguardavam o voo do dia seguinte. É impressionante
o crescimento do fluxo de turistas de todas as partes do mundo em Portugal.
E
como não poderia deixar de ser nesse momento Lisboa e Porto estão sendo tomadas
por brasileiros não só como turistas, como também para trabalhar, estudar,
investir num mercado mais estável, ou mesmo para morar depois da aposentadoria
em busca de uma melhor qualidade de vida. Atualmente cerca de 105 mil
brasileiros residem em Portugal.
Lisboa-Festa popular |
O professor e ensaísta
português Arnaldo Saraiva, em artigo publicado no Jornal Público de 15 de julho,
sobre a presença dos brasileiros em Portugal, chama atenção para os números
oficiais que, segundo
as estatísticas, equivalem a um quinto da totalidade dos estrangeiros no país.
“Mas pelo que vemos e
ouvimos em espaços públicos e privados, na televisão e na rádio, temos a
sensação de que serão muito mais; aliás, nesses números não entram os chamados
luso-brasileiros e os turistas que renovam habilmente a sua permanência”.
Lisboa-Padrão dos Descobrimentos |
São brasileiros de diferentes
classes socioeconômicas que estão espalhados por todo o país, evidentemente os ricos
escolhem para morar em Lisboa ou na área metropolitana da capital como Cascais,
Estoril ou em outras regiões como Douro
e Algarve. Estão investindo em imóveis
de alto padrão, só compram carros de luxo, circulam nas ruas exibindo ostensivamente
relógios e outras joias de grife sem medo de roubos e assaltos.
A Revista do Expresso,
uma publicação do jornal semanário Expresso, na edição de 3 de agosto publicou
uma extensa reportagem assinada pela jornalista Catarina Nunes sobre a vida dos
milionários brasileiros em Lisboa.
“A imagem de Portugal de
país desinteressante, atrasado e fora de moda está a dissipar-se na cabeça dos
brasileiros, em particular na dos milionários, que deixam o Brasil e rumam de
braços abertos para o “país irmão”. Seja para fugir da crise e da insegurança
ou da Operação Lava Jato. Por cá, e com dinheiro sem limites, replicam o estilo
de vida que trazem de São Paulo ou do Rio de Janeiro e contribuem para fazer
disparar o preço do imobiliário e as vendas de marcas e produtos de luxo”.
Lisboa-Partida para City Tour |
Viver em Lisboa, no Porto
ou em outras cidades em Portugal, quase não é necessário instalar nas casas cercas
elétricas, câmeras de segurança, nos prédios de apartamentos não tem porteiro
24 horas ou qualquer outro sistema de segurança porque o modo de vida
possibilita chegar e sair de suas moradas com tranquilidade.
Mas, todo esse crescimento do fluxo turístico,
essa abertura para os “irmãos brasileiros” que chegam para morar, investir,
trabalhar, estudar ou mesmo buscar uma melhor qualidade de vida tem suas
vantagens e desvantagens para os habitantes “nativos” que se sentem um pouco
incomodados com tantas mudanças na vida cotidiana de sua cidade, do seu bairro
e até da sua rua. Portanto, portugueses e brasileiros falam a mesma língua com
sotaques diferentes, com algumas identificações nos hábitos e costumes, mas não
são iguais como todo e qualquer irmão e quando não são de sangue são ainda mais
diferentes.
Lisboa-Parq Eduardo VII |
Portugal já não é mais um
país só romântico, da tristeza cantada nos fados, do bacalhau, do azeite, do
vinho, dos doces conventuais, das festas religiosas e profanas populares principalmente
nos meses de verão. É tudo isso, mas vem passando por profundas mudanças com a
sua descoberta como importante destino turístico nos últimos anos e como
consequência cada vez mais se modernizando para atender a demanda de consumo
dos estrangeiros que lá chegam para desfrutar de suas belezas naturais e
culturais.
Lisboa é atualmente uma
cidade globalizada, é cada vez mais hibrida onde convivem pessoas de diferentes
nacionalidades em espaços pequenos e interagindo com o tradicional e o
contemporâneo. Portugal, mesmo assim continua um pais da afetividade e da
paixão pelo fado de Amália Rodrigues e pelo futebol das duas maiores torcidas
Benfica e Sporting.
Faz favor e, obrigado.
Interessante constatar... há ainda uma visão preconceituosa em relação aos brasileiros. Mais interessante ainda é constatar a incoerência de muitos brasileiros que vão para lá, um país de bases socialistas, e aqui representam o conservadorismo mais atrasado e desigual que se pode ter...
ResponderExcluirOsvaldo, muito boa descrição das mudanças que continuam ocorrendo em Portugal. Tenho ido quase que duas vezes ao ano ao país e nunca o encontro como deixei. É sempre surpreendente e inovador, me passa um senso de seriedade e responsabilidade com a coisa pública que nem imaginamos experimentar no Brasil. Além disso, a criatividade salta aos olhos, nos magníficos projetos de restauração e na cultura que explode em topa parte. Viva Portugal!
ResponderExcluirAbraço
Henrique
Meu caro Osvaldo, gostei de ler o seu texto, que vale também por ser um bom testemunho de um brasileiro de nascença. O abraço melhor para você e para Rosinha do
ResponderExcluirArnaldo Saraiva
Boa análise
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