segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Contos e lendas no contexto da folkcomunicação e nos comerciais para televisão

As tradições culturais com as suas representações históricas carregadas de sentidos e de processos comunicacionais continuam enraizadas no imaginário coletivo da sociedade humana mesmo com todos os avanços tecnológicos dos meios de comunicação. Não é de agora que a mídia se apropria dos bens culturais tradicionais com o objetivo de alcançar maiores índices de audiência, quer seja nas novelas, minisséries ou nas campanhas de produtos comerciais.
  
Os contos, as lendas, as danças e folguedos, a religiosidade e tantas outras manifestações do folclore e da cultura popular são reinventadas e adaptadas ao longo do tempo e do espaço histórico pelos diferentes meios de comunicação, que vão desde as mais remotas narrativas orais, a expansão do cristianismo, a difusão em maior escala com a invenção da imprensa móvel e atualmente as mídias com todos os seus aparatos tecnológicos.

Os contos e as lendas tradicionais são transmitidos há centenas de anos por povos de diferentes culturas e religiosidades em quase todos os recantos do mundo. E, por esses motivos, são tradições culturais que resistem ao tempo, continuam vivas nas memórias e na dinâmica histórica dos diferentes povos, independente dos seus níveis econômicos e socioculturais. Os contos e as lendas tradicionais estão impregnados, enraizados na produção de sentidos, no imaginário coletivo e na diversidade cultural das comunidades, estejam onde estiverem.

Quanto a mídia se apropria dessas manifestações tradicionais com o objetivo de transformá-las em campanhas comerciais para a venda de seus produtos o resultado é quase sempre de aceitação coletiva e, consequentemente, alcançam maiores índices de audiência, até porque os códigos e os significados dos contos e lendas tradicionais são ao mesmo tempo globais, locais, familiares, explicativos e interpretativos dos fatos históricos, das mitologias e das narrativas ficcionais. Ou seja, os contos e as lendas são narrativas do mundo dos encantados e das fantasias.

As manifestações culturais tradicionais, e aqui estamos tratando especificamente dos contos e das lendas, quando usadas como narrativas nas novelas, nas minisséries, nos comerciais e nos demais produtos midiáticos continuam estruturados no mundo das suas origens e das suas tradições como o dos espetáculos, das magicas e imagéticas, do sarcástico e risível, das festas e do teatro, das experiências místicas e religiosas.

E são esses mundos e essas experiências globais, locais e familiares que estruturam as modalidades dos contos e das lendas, desde os tempos mais remotos e os espaços que ultrapassaram continentes nos diferentes períodos da história e que chegam na atualidade com as mais representativas versões e variantes. Aqui no Brasil os contos e as lendas tradicionais vieram na bagagem dos colonizadores portugueses e ao longo do tempo foram incorporados significados tropicais, caboclos e mestiços.  

As mídias ao se apropriarem dessas narrativas, recriam e adaptam o modo de contar as histórias, cujas celebridades midiáticas representam os seus personagens, mas matem estrategicamente as modalidades e as tipologias que constroem o mundo fantástico dos reis e rainhas, dos príncipes e princesas, dos bruxos e bruxas, das guerras de cavalarias, das lutas   entre o bem e mal,  que encantam o mundo infantil que temos dentro de todos nós, independente de faixa etária e do tempo e espaço em que vivemos. 
  
Na folkcomunicação um dos campos de estudo e pesquisa é compreender as   mediações articuladas estrategicamente pelas empresas de mídias nos processos de apropriação e incorporação dos contos e lendas tradicionais na produção e veiculação de suas campanhas comerciais. 

Vejamos alguns exemplos de campanhas comerciais como a da SKY, da CIELO, do Banco ITAÚ e do Posto Ipiranga, exibidas durante o período dos jogos olímpicos nos canais de TV aberta e por assinatura aqui no Brasil.

Campanha de TV por assinatura SKY, inspirada nos Contos de Fada: (https://www.youtube.com/watch?v=pvVujAvkxJo) 


A Cielo com a campanha Empreendedores Fantásticos lança no mercado um novo produto voltado para os estrangeiros usarem a máquina de compras que converte na moeda do pais de origem e que tem como protagonistas bruxas, anjos, mostro e fantasmas.



A Fundação Banco Itaú com a campanha Leia para uma criança inspirada na clássica lenda do Rei Artur, umas das mais significativas do universo infantil que conta a história de um cavaleiro que se torna rei depois de arrancar a espada enfincada na pedra https://www.youtube.com/watch?v=KYwRbAjeQI4).


A campanha do Posto Ipiranga lançada no início do ano Lá no Posto Ipiranga com filmes comerciais mostrando diferentes cenários como os homens das cavernas, os contos de fadas, histórias de vampiros e outras situações da Idade Média a Idade da Mídia. (https://www.youtube.com/watch?v=MNqo2Wn2OtI).



3 comentários:

  1. Prof. Osvaldo
    Parabéns por este texto. Já o compartilhei com os meus alunos da disciplina de Folkcomunicação. Excelente.
    Um forte abraço. Prof. Wolfgang Teske.

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    1. Olá amigo Teske, obrigado. como vão as coisas ai no magnifico TO.
      Abraços
      Osvaldo

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    2. Eu estou no doutorado em Ciências do Ambiente, na linha de pesquisa de Natureza, Cultura e Sociedade. O meu projeto de pesquisa continua com a Comunidade Quilombola e com base na Folkcomunicaçao.
      Principalmente analisando as consequências da mineração em Arraias-TO sobre as manifestações culturais da Comunidad, seus saberes e fazeres.
      Além disso, estou lecionando a disciplina optativa de
      Folkcomunicaçao na UFT.
      Acabei de fazer um estado da arte da Folkcomunicaçao no Tocantins, de 2004, data dos primeiros trabalhos até agora. Apresentarei a análise daqui a duas semanas em um Seminário de Comunicação na UFT. Depois publicar como artigo em alguma revista.
      Um forte abraço.

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