sábado, 22 de dezembro de 2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Nordestinos, o Brasil em busca de soluções
Vale a pena ver de novo?
O Jornal Nacional da Rede Globo no dia
21 de novembro exibiu mais uma reportagem da série JN no Ar com o repórter
Pedro Bassan mostrando os efeitos da seca em diferentes cidades do Nordeste. E
qual era a novidade da reportagem. A distribuição de água por carros- pipa? A
mortandade dos animais vítimas da sede e fome? A fuga do sertanejo sofrido para
outras regiões? A falta de decisões políticas? Qual era mesmo a novidade? Nada
disso é novidade, são coisas que acontecem há muitos anos e todas as vezes que o
semiárido é atingido por mais um período de seca tudo isso volta à tona. A seca
se repete regularmente no Nordeste e quase nada muda. A única novidade na
reportagem é a qualidade das imagens que atualmente são exibidas em HD.
Fonte: Relatório "Nordestinos", Rede Globo/1984 |
Em
1984, há 28 anos, a Rede Globo primeiro lançou uma campanha Nordestinos, Urgente, que
tinha como objetivo a arrecadação de alimentos e água para matar a fome e a
sede dos que estavam sofrendo com mais um longo período de seca. Foi uma
comoção nacional e toneladas de donativos chegavam ao Nordeste para minimizar,
mesmo que temporariamente, a fome e a sede dos nordestinos pobres do semiárido.
A equipe responsável pela campanha Nordestinos,
Urgente ao avaliar os resultados da mobilização nacional de doações,
verifica que são efêmeros, emocionais, assistencialistas e nada mudaria a curto
ou longo prazo a situação na região. Ou seja, o problema no Nordeste não seria
resolvido apenas com doações de alimentos e água temporariamente, ou com
subsídios, com obras emergenciais ou até mesmo com esmolas.
No mesmo ano a Confederação Nacional dos
Bispos do Brasil publica um documento denunciando a miséria, as ameaças
constantes de genocídio do povo nordestino, a inoperância das autoridades e dos
programas oficiais.
Frente à situação pela qual passava o
Nordeste em 1984 a Rede Globo de Televisão lançou o projeto Nordestinos: O Brasil em busca de soluções. E teve o apoio de 11
universidades nordestinas na sua execução. Nessa época eu fazia mestrado em
Administração Rural e Comunicação Rural na Universidade Federal Rural de
Pernambuco/UFRPE, um das universidades envolvidas no projeto e como aluno
fiquei interessado em acompanhar a mobilização liderada pela Rede Globo de
Televisão. O projeto teve o seu lançamento em cadeia nacional com o
pronunciamento do Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Eugênio Sales, nordestino do
Rio Grande do Norte, que conhecia os problemas do semiárido. Foram 50 dias de
atividades no campo com a participação de professores, pesquisadores e
técnicos, das universidades conveniadas, que percorreram 7.700 quilômetros
coletando informações sobre os efeitos da seca em oito estados e vários
municípios do semiárido.
Fonte: Relatório "Nordestinos", Rede Globo/1984 |
O trabalho de campo teve como objetivo coletar
testemunhos, opiniões e informações de autoridades e especialmente do povo,
mais de seis mil pessoas contaram suas histórias sobre a miséria, a fome e o
abandono do semiárido pelas autoridades, sobre as questões da terra e as
relações de trabalho, sobre as famigeradas frentes de emergências, sobre o uso
da água, das novas tecnologias e dos agrotóxicos, sobre as questões da
comercialização e cooperativismo, sobre o crédito agrícola, sobre a educação, a
saúde, a nutrição e sobre tantos outros problemas.
O relatório do projeto Nordestinos: o Brasil em busca de soluções,
lá nas suas conclusões afirma:
A
população sertaneja está cansada de promessas e frustrações Quando se fala em
falta de decisão política para resolver os problemas urgentes dos sertões,
estranha-se. Afinal de contas, nos últimos anos, o Nordeste tem tido um peso
politico considerável dentro do partido governista e seus representantes têm
ocupado cargos importantes. A Prova dos Nove foi feita: não basta ter
representação política formal: é preciso a mobilidade de todos. Sem mobilização
democrática não haverá transformação social. Esta é a política que os sertões
precisam: participação e cidadania (Projeto
Nordestinos: o Brasil em busca de soluções. Relatório de Viagem ao Sertão. Rede
Globo, 1984, p. 26).
Nessa nova série de reportagens sobre o
Nordeste o Jornal Nacional (TV Globo), agora no dia 26 de novembro, mostrou ao
Brasil o desperdício de recursos públicos na tão esperada obra de transposição
do Rio São Francisco. O que estamos assistindo no Jornal Nacional é um retorno
ao passado e que não é simulacro, não se trata de ficção é a pura realidade. O
documento então publicado, há 28 anos atrás, pela Rede Globo e as 11
universidades nordestinas continua atual e os debates sobre os problemas no
Nordeste e especialmente no semiárido se repetem. Ou seja, passaram os anos e quase
nado mudou e a nossa esperança está na nossa fé, como enfatizou a ministra do
Planejamento Miriam Belchior (...) que as pessoas não percam a confiança. Aquele pessoal tem fé. E o que
eu posso dizer pra eles é que a água vai chegar, sim, em 2015.
Ah! Bom, então tá, com fé esperamos.
Agora que se aproxima o fim de 2012,
vale a pena ver de novo tudo que o JN nos mostra em rede nacional, a pior seca
dos últimos 30 anos. Plimplim!!!
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Os 249 anos da Romaria da Penha
Nos últimos anos venho estudando
diferentes festas tradicionais populares brasileiras, religiosas e profanas, no
contexto da sociedade midiática e da folkcomunicação com o objetivo de
compreender os novos significados dessas celebrações na atualidade.
Há centenas de anos o homem comemora os seus ritos
de passagem, relembra as suas datas festivas, sagradas e profanas. Essas
evoluções e evocações chegam até os dias atuais incorporadas aos nossos
calendários de tradição religiosa e festiva do catolicismo popular no Brasil e
especialmente no Nordeste. Ao longo do tempo essas práticas sempre fizeram parte dos
processos das transformações culturais e religiosas da sociedade humana, das
suas relações simbólicas entre a realidade, a ficção e o lúdico, dando origem
aos diversos protagonistas e suas performances nos festejos populares.
As festas populares tradicionais são
acontecimentos identificadores dos fatos locais, são celebrações das diversas
relações sociais vivenciadas pela comunidade nos territórios sagrados e
profanos. O ser humano é um realizador de festas, portanto, a festa é parte
essencial para as relações sociais e é através das festas que se divulgam e organizam
as suas culturas e as suas memórias. É nas observações e nas interpretações das
festas populares que se descobre os códigos, as regras e os estatutos
construtores do ensinar e aprender as diversidades da cultura brasileira,
consequentemente, o desenvolvimento da identidade de um povo. As festas
populares passaram e ainda passam por importantes transformações culturais nos
diferentes momentos da história da sociedade. Num passado mais remoto com a
instituição da quaresma, depois com as navegações e os grandes descobrimentos
de novas terras e na contemporaneidade com a globalização cultural
proporcionada pelas novas tecnologias da comunicação, dos negócios do turismo e
dos acontecimentos midiáticos.
Neste final de semana acontece uma das mais importantes festas populares tradicionais da Paraíba, a Festa da Penha com os seus 249 anos de história e devoção demonstrada pelos mais de 300 mil fiéis, conforme estimativa da Policia Militar, que em romaria saem da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes na noite do sábado (24), num percurso aproximadamente de 12 quilômetros, rumo ao Santuário de Nossa Senhora da Penha, localizado na praia do mesmo nome, e chegada prevista na madrugada do domingo. São inúmeros os devotos que caminham rumo ao santuário levando as suas oferendas para depositarem na Sala dos Milagres em agradecimento a Nossa Senhora da Penha pela graça alcançada. Ou seja, entregam o ex-voto que é a materialização da promessa cuja graça foi alcançada. O ex-voto significa o agradecimento do fiel a um Santo ou Santa pela cura de doenças, de vícios, pelo casamento, por conseguir emprego, ter passado de ano nos seus estudos, por adquirir uma casa, um carro ou uma moto e tantas outras coisas.
Enfim, o pagamento de promessa é uma manifestação de caráter religioso
vinculada a uma atividade extraordinária daquilo que foge às práticas da vida
cotidiana, materializando os pedidos através de representações em artefatos de
cerâmica, de gesso, de parafina, ou em formas de cartas, bilhetes, fotografias,
pinturas, desenhos, e orações publicadas nos jornais e outras diversidades de
manifestações artísticas culturais.
O pagamento de promessas através de
ex-votos é uma prática universal cujas origens se perderam no tempo, porém,
sabe-se que os povos do Mediterrâneo 3000 anos a.C. já ofertavam objetos e
animais às divindades como forma de agradecimento por uma graça alcançada. Portanto, o ex-voto depositado em
algum lugar considerado sagrado pelo devoto é uma forma prática de pagamento de
uma graça alcançada, mas cada expressão, cada conteúdo transportado em cada uma
de suas formas antropomorfas (representações do corpo humano ou de parte dele),
zoomorfas (as representações de animais ou parte deles) e outras formas de
representações (de pessoas ou coisas através de fitas, velas, vestuários,
mechas de cabelo, peças utilitárias de uso doméstico, aparelhos ortopédicos,
fotografias, cartas, publicações em jornais) são fontes de informação da
cultura de um povo que deve ser estudado para uma melhor compreensão das
superações de diferentes dificuldades por que passa determinada comunidade. Os
ex-votos são indicadores que certos problemas foram solucionados ou desejos
realizados, como a cura de uma doença, a aquisição de casa ou de outro bem como
carro, moto e tantos outros.
O ex-voto é
muito mais do que um bem cultural material ou imaterial de significado de
pagamento de promessa, também é necessário se considerar os seus valores
antropológico, etnográfico, estético e, como veículo de comunicação popular –
processos folkcomunicacionais – são importantes portadores de informações e de
opiniões das populações rurais e urbanas brasileiras e, sem dúvida, uma das
mais expressivas formas de comunicação popular brasileira que resiste ao tempo
e espaço no contexto da sociedade midiatizada.
A Romaria de Nossa Senhora da Penha aqui em João Pessoa, mesmo com a globalização cultural, é um importante exemplo de que a devoção popular e a tradição da festa religiosa e profana não se acabam com as novas significações culturais midiatizadas pelas novas tecnologias da comunicação. A revitalização das festas tradicionais é mais uma demonstração que a cultura popular não só é de resistência ao tempo, mas também de interpelação e de incorporação, em diferentes estâncias de espaços, de valores das culturas contemporâneas. Melhor dizendo ao invés da tão propagada visão apocalítica de alguns que pregam o fim das manifestações tradicionais populares, provocadas pela globalização, assistindo na atualidade o ressurgimento dessas manifestações tradicionais e mais uma vez digo o exemplo é a Romaria da Penha que em 2013 completa 250 anos e com certeza mais viva e forte porque esse é o desejo do povo devoto de Nossa Senhora da Penha.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Hoje aos 65 anos
Hoje completo 65 anos de vida e bem
vivida nos diferentes campos de experiências de quem nasceu em Patos, no sertão
seco, mas festivo e solidário, de quem passou
toda a infância e adolescência entre Patos e a Paria do Poço, aqui em Cabedelo.
Foram experiências, tempo e espaço do sertão e tempo e espaço do litoral, que
me ajudaram, e muito, a consolidação da minha vida de adulto. Agora estou em
pleno direito de gozo das garantias do Estatuto do Idoso, ainda pouco respeitado,
mas hoje conquisto esse direito pleno.
São 65 anos, bem vividos e que agradeço
a Deus, aos meus pais Carlos e Leonor e titia Amélia (in memória), aos meus
irmãos e irmãs, também a Mário e Alberto (in memória), aos meus amigos, agradecer
a Rosinha companheira de 34 anos, aos meus dois filhos Antonio Carlos e
Osvaldinho.
Aos 65 anos não poderia deixar, mais uma
vez de agradecer a Deus por ter me dado a felicidade de ter um neto. Obrigado Cindy,
obrigado Antonio Carlos pelo nosso querido Rafael. São 65 anos vividos
intensamente e hoje resolvi também fazer uma surpresa tirando, temporariamente da
minha vida, a outra minha companheira de 40 anos, a minha barba, curtida com
muito carinho.
Até logo minha barba, estou aguardando você de
volta nesses próximos dias.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
O dia do professor e a federalização do ensino básico
Jesus, Maria e José!!!
Quase me passou despercebido que o dia
15 de outubro é o dia do professor, é feriado escolar, até porque na mesma data
se comemora, também, o dia do comerciário e aí realmente para quase tudo:
shopping, as lojas de grandes e pequenos negócios, supermercados, etc. A
convergência das duas celebrações com o comércio e a escola fechada fica
parecendo com o feriado da Sexta-Feira Santa, ou seja, quase tudo parado. Mas,
não sei por que só vinha na minha cabeça o feriado do comerciário e logo eu um
professor aposentado com mais de 30 anos de atividade na universidade quase esqueci
o dia do professor.
Mas, foi o pronunciamento do senador Cristovam
Buarque na tribuna do Senado que me fez lembrar o dia do professor. O senador
falou mais para os telespectadores da TV Senado do que para os seus pares, mas
falou com toda a convicção do seu projeto de federalização do ensino básico, na
melhoria salarial e das condições de trabalho do professor. No seu pronunciamento o
professor e senador fez comparações do ensino no Brasil com outros países de
economia e renda próximas ou mesmo inferiores a nossa, mas que destinam mais
recursos e melhores políticas de ensino/educação.
O projeto de lei do senador, o PLS
320/08, que tramita na Comissão de Educação do Senado prevê a criação da Carreira
Nacional do Magistério e o salário de nove mil reais para professores e aumento
de gastos por aluno. É sem dúvida um projeto importante para a melhoria
quantitativa e qualitativa da educação do Brasil e que prevê ao longo de 20
anos uma verdadeira revolução civilizatória do país.
Jesus,
Maria e José,
se não fosse esse pronunciamento do professor senador teria esquecido do dia da
minha categoria!
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Radiotevê: a Nova Era do Rádio aos 90 anos
Acervo Pessoal |
Uma
das grandes revoluções da comunicação mundial foi o surgimento do rádio no início
do século 20 com a histórica transmissão em 1901 entre a Europa e os Estados
Unidos. Nos anos 30 do século passado o rádio já era um importante veículo de
propaganda política usado pelo Presidente dos Estados Unidos Franklin
Roosevelt, por Hitler na Alemanha e por tantos outros. Nos anos 40 e 50 do
mesmo século o rádio consolidava-se como importante veículo de comunicação em
várias partes do mundo.
Caubi Peixoto (acervo pessoal) |
A
primeira experiência de transmissão radiofônica no Brasil ocorreu em 1922, nas
comemorações do centenário da independência com o pronunciamento do então
Presidente Epitácio Pessoa. Mas, o Brasil entra, verdadeiramente, na Era do Rádio
no período do Estado Novo que vai de 1937 a 1945 quando Getúlio Vargas cria o
Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP. Até meados da década de 1960 o rádio
viveu o período denominado da Era de Ouro e a partir daí, começa a perder
audiência para a televisão quando é anunciada a morte do rádio para esse novo
veículo de comunicação que tinha som e imagem e o rádio seria passado para
trás, diziam que não haveria mais espaço para o rádio.
Emilinha Borba (acervo pessoal) |
O
rádio recebeu anúncio de morte em diferentes épocas da sua história, sempre
sobreviveu e agora está mais vivo do que nunca. Com o surgimento da televisão a
Era de Ouro do Rádio passou a ser a era da TV e mais uma vez a morte foi
anunciada como quadro irreversível. Era a sua morte cerebral, a sua morte tecnológica,
os conteúdos e os profissionais seriam transferidos para o novo veículo de
comunicação que empolgava o Brasil. Os anos se passaram e mais uma vez o rádio
saiu da UTI.
Jornal Gente com Joelmir Beting, Rafael Colombo e Salomão Ésper |
Ao
contrário da visão pessimista de alguns, o que estamos assistindo na atualidade
é o surgimento de uma nova Era do Rádio onde as convergências de tecnologias
e abrangências de conteúdos transformam o rádio em um veículo também com
imagem. Ou seja: “radiotevê”. Melhor dizendo, se nos anos 50 e 60 do século 20
tivemos o aparecimento da “tevêradio”, na atualidade está emergindo o “radiotevê”,
possibilitado por diferentes suportes tecnológicos e entrando com toda força na
era da imagem e do som digital.
O
rádio não só se escuta, agora também se pode ver,
inclusive o nosso programa preferido, em qualquer parte do mundo. É o rádio híbrido com
som e imagem navegando na internet e tantos outros suportes midiáticos. O rádio
criou novas linguagens para atender os diferentes segmentos da sociedade
independente de idade, gênero, classe econômica e cultural.
Não se justifica mais que o apresentador do programa
de rádio diga: pena que não seja TV para
o ouvinte ver isso ou aquilo. No “radiotevê” a audiência não é mais só de ouvintes,
é ao mesmo tempo de ouvintes e telespectadores. Isto é, os constituintes da
audiência dos programas radiofônicos não são mais só ouvintes, agora são
“teleouvintes”, e realmente é um novo prazer, uma redescoberta ouvir e ver esse
rádio que se espalha mundo afora. O “radiotevê” prolifera nas diferentes redes
para atender a sociedade midiatizada que cada vez mais está disponível para a maioria dos brasileiros.
Apresentadores Josival Pereira e Cláudia Carvalho (João Pessoa/PB) |
Nem Roquete Pinto imaginaria tanto. Parabéns ao jovem rádio brasileiro.
domingo, 24 de junho de 2012
Repercussão do post A Festa dos Bugios
O artigo
“A Festa dos Bugios: uma celebração carnavalesca do São João em Portugal” tem repercussão
internacional e é destaque no Blog oficial da Casa dos Bugios.
O professor doutor, pesquisador e dirigente da festa de Sobrado, Manuel Pinto, destaca: "Talvez a
mais extraordinária Festa de São João e uma das mais expressivas manifestações
da cultura popular portuguesa" - é assim que classifica a Festa de Bugios
e Mourisqueiros um dos maiores actuais especialistas de culturas populares do
Brasil, que esteve em Sobrado na festa de 2011.”
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Quadrilhas Juninas e as Festas dos Santos Populares
Chega a época das festas juninas no Brasil e continua a polêmica sobre
as apresentações das quadrilhas nos festivais e encontros promovidos por órgãos públicos ou privados, se são
tradicionais, se são estilizadas, se estão mais parecidas com as escolas de
samba do Rio de Janeiro ou mesmo com blocos de carnaval. Não importa o que
seja, mas que são apresentações que atraem público, elevam a autoestima dos
seus brincantes, na maioria jovens que moram nas periferias das grandes
cidades, disso tenho certeza, principalmente, depois que venho observando a evolução
desses grupos organizados para celebrar os santos populares do mês de junho:
São Antônio, São João e São Pedro.
Os festivais, os encontros de quadrilhas
juninas se espalham por quase toda a região nordestina como um novo espetáculo
e todo o espetáculo tem três componentes fundamentais: o espaço, o tempo e o
movimento de apresentação. Mas, na sociedade contemporânea emerge um quarto
componente importante, o midiático, que quase sempre determina um novo espaço,
um novo tempo e um novo movimento para as apresentações dos espetáculos,
especialmente para as transmissões da televisão ao vivo, aliás, isso acontece
no carnaval do Sambódromo, no festival do Boi em Parintins, na festa de Rodeio
em Barretos e em tantas outras festas populares brasileiras.
Evidentemente
as festas juninas no Nordeste não poderiam ficar de fora do jogo de interesse
da mídia e principalmente da televisão.
Antes de criticar as atuais quadrilhas é necessário conhecer quais são
as origens das nossas festas populares, de onde vieram as nossas manifestações
culturais tradicionais, como surgiram na Península Ibérica e como chegaram no
Brasil. São questionamentos que necessitam de melhores reflexões dos
estudiosos, dos pesquisadores e dos agentes responsáveis pela administração das
políticas públicas para as culturas tradicionais, por que o povo está
interessado mesmo é em festejar e celebrar esses santos populares.
Sabe-se, através da
história, que na Idade Média os povos celebravam festas para os deuses pagãos
nas mudanças das estações do ano, no antigo Egito em homenagem a deusa da
castidade Isis, em Roma ao deus do vinho Baco e assim foram se espalhando as
festas dionisíacas, lupercais, saturnais, charivaris ou assuadas que eram
festas com suas inversões dos valores morais, com os cortejos jocosos, das
alegorias e das extravagâncias. Ou seja, as festas das mudanças de estações do
ano, que predominaram na Europa Antiga por longos períodos, quase sempre foram
espetáculos de carnavalizações, das fantasias grotescas, com muitas cores,
irreverências e de personagens patéticas. A passagem da primavera para o verão
é a melhor época para a colheita das plantas mágicas com seus poderes de cura e
nesta agenda de festividades, das crenças populares estavam as comemorações ao
solstício de verão no hemisfério norte e aqui chegavam com os colonizadores em forma de festa
religiosa e profana não mais para comemorar a mudança de estação, achegada do
inverno no hemisfério sul, que sempre ocorre entre os dias 20 e 24 de junho,
mas para celebrar os santos católicos: Santo Antônio, São João e São Pedro.
Portanto, não basta fazer crítica, é necessário entender a evolução das nossas
festas populares, situá-las nos diferentes contextos socioeconômicos, nos
espaços/tempos/movimentos do público e privado, da casa e da rua, cada vez mais
influenciada pela sociedade midiática. Com a globalização cultural ao invés da
propalada extinção das culturas tradicionais o que estamos vendo são suas
ressignificações para atender as demandas de consumo de bens culturais, para o
turismo e para a mídia, com suas formas hibridas do global/local. Aqui chamo
atenção para as quadrilhas juninas como um espetáculo popular em evolução, com
torcidas organizadas e que atraem grandes públicos nas suas apresentações.
Este
ano o concurso de quadrilhas juninas de João Pessoa ocorre na praça Dom Adauto,
mais conhecida como a praça do Bispo. Durante três noites mais de 20 grupos se
apresentam e as três primeiras classificadas disputam o campeonato paraibano
que será realizado no Parque do Povo, em Campina Grande.
E em festejos juninos não pode faltar forró nos seus diversos gêneros:
pé-de-serra, universitário, de plástico e eletrônico entre outros. É nesse “ritmo”
que participarei da banca examinadora da defesa de dissertação da mestranda
Libny Silva Freire na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
A Festa dos Bugios: uma celebração carnavalesca do São João em Portugal
Cartaz da Festa "Bugiada 2011" |
A origem das festas juninas tem como base duas hipóteses defendidas por folcloristas e outros estudiosos.
Uma é a sua vinculação direta à celebração do nascimento de São João Batista, filho de Zacarias e Isabel, precursor do Messias.
A outra hipótese, à qual nos associamos, é a sua vinculação com as festas de origem pagã na Idade Média, pela celebração da chegada do verão no Hemisfério Norte, o solstício de verão.
Acompanho há vários anos
essa polêmica entre a tradição e a modernidade dos festejos juninos no nordeste
brasileiro, principalmente sobre a evolução das quadrilhas que estão cada vez
mais parecidas com as escolas de samba do Rio de Janeiro e então resolvi conhecer de
perto as raízes Ibéricas da festa de São João para melhor compreender tudo
isso.
Quem tem razão? As nossas festas estão realmente perdendo as suas
tradições? A globalização e consequentemente a mídia são responsáveis por todas
essas modificações? Para verificar tudo isso fomos a Portugal, em junho de 2011,
para observar as festas de Santo Antonio, São João e São Pedro e fiquei
impressionado com a participação popular nas celebrações dos três santos do mês
de junho em todo o país. É realmente uma das maiores festas populares dos
portugueses, tão grande ou maior que o carnaval.
Marchas de Lisboa |
Mas o que mais nos chamou atenção foi a festa centenária dos Bugios do Sobrado, um pequeno distrito do município do Valongo pertencente a região metropolitana do Porto, onde se realiza no dia 24 de junho, talvez, a mais extraordinária Festa de São João e uma das mais expressivas manifestações da cultura popular portuguesa, que ainda não foi descoberta pela mídia e nem pelo turismo.
Foi observando essa festa que passamos a compreender melhor o que está
acontecendo na atualidade com as nossas festas juninas aqui no nordeste
brasileiro e as suas transformações ou ressignificações, para atender as novas
demandas de consumo do mundo globalizado.
Bugiada 2011 |
Na festa de São João do Sobrado há uma representação da luta entre mouros (os
Mourisqueiros) e os cristãos (os Bugios), que desfilam pelas ruas da localidade
em ritmos de marchas marciais. É uma batalha entre o bem (os cristãos) e o mal (os
mouros) e como sempre nessa luta o bem vence o mal.
Na Idade Média as festas de mudanças de
estação do ano eram festas carnavalescas, dos muitos mascarados que saiam às
ruas praticando desordens e desrespeito às autoridades locais e tudo isso com
permissão da sociedade.
Era a festa do mundo pelo avesso, a inversão do homem que andava no animal de costas segurando a cauda do burro, inversão do sexo, ou seja, homem vestido de mulher e mulher vestida de homem. No período dessas festas quase sempre a liberdade sexual era permitida, ou seja, valia quase tudo que não estava na ordem do dia.
Bugiada 2011 - Mundo pelo avesso |
Era a festa do mundo pelo avesso, a inversão do homem que andava no animal de costas segurando a cauda do burro, inversão do sexo, ou seja, homem vestido de mulher e mulher vestida de homem. No período dessas festas quase sempre a liberdade sexual era permitida, ou seja, valia quase tudo que não estava na ordem do dia.
É a experiência dos diferentes mundos que aflorava
com maior intensidade assim como o mundo maravilhoso da Cocanha ou de São Saruê
como bem relatou em versos o poeta popular paraibano Manoel Camilo. Melhor
dizendo as festas das mudanças das estações do ano, mesmo que sazonalmente, eram
demonstrações de contestação ao cotidiano, das críticas sociais, dos protestos
as elites políticas em que o povo contrariava as determinações da Igreja.
Os festejos populares da estação de verão, no mês de junho no Hemisfério Norte, na Idade Média eram celebrações vinculadas aos festejos carnavalescos, principalmente as festas de Corpus Christi e São João Batista.
Na Festa dos Bugios do Sobrado em Portugal, que fica a 15 quilômetros da cidade do Porto, o que assistimos foi uma festa rural de celebração do dia de São João com fortes características dos festejos carnavalescos da Idade Média.
Corso da Bugiada 2011 |
Os festejos populares da estação de verão, no mês de junho no Hemisfério Norte, na Idade Média eram celebrações vinculadas aos festejos carnavalescos, principalmente as festas de Corpus Christi e São João Batista.
Na Festa dos Bugios do Sobrado em Portugal, que fica a 15 quilômetros da cidade do Porto, o que assistimos foi uma festa rural de celebração do dia de São João com fortes características dos festejos carnavalescos da Idade Média.
Mourisqueiros da Bugiada 2011 |
Cavalhadas 2012 |
No Cavalhódromo, que fica no centro da cidade de Pirenópolis, assistimos as tradicionais e belas Cavalhadas que simbolizam a luta de mouros (o mal) e cristãos (o bem), os cordões azul e encarnado, uma batalha imaginária cujo objetivo se assemelha ao que acontece na festa centenária dos Bugios de Sobrado em Portugal.
Mascarados na Festa do Divino 2012 |
Mascarados na Festa do Divino 2012 |
Assim podemos dizer que tanto as festas juninas como as festas de Corpus Christi tem as suas origens nas festas carnavalescas da Idade Média de celebração da chegada do verão no Hemisfério Norte e que chegaram com os colonizadores já adaptadas conforme determinava a religião cristã.
Mascarados na Festa do Divino 2012 |
Procissão de São João na Bugiada 2011 |