quarta-feira, 16 de março de 2016

MetaCiência na prática


Nesta segunda-feira a convite do professor Marcos Nicolau participei da aula de abertura do semestre letivo de 2016 do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação-PPGC da Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Foi um reencontro com professores e alunos para um breve debate sobre as tendências da pesquisa no campo da ciência da comunicação e também para “matar” a saudade da sala de aula, de onde já estou afastado há algum tempo. Na ocasião o professor Marcos Nicolau lançou o livro MetaCiência na prática para lidar com a pesquisa científica, para o qual, com muita honra, fiz o prefácio e apresentação, que transcrevo a seguir.
Era uma manhã de verão quando recebi um telefonema do professor Marcos Nicolau convidando-me para fazer a apresentação deste livro. Fiquei surpreso com o convite porque já estou aposentado há algum tempo e um pouco fora de forma da vida acadêmica. Mas, como nunca deixei de ser pesquisador, aceitei o convite. E, como acompanho a formação do professor Marcos Nicolau, desde a sua iniciação acadêmica na graduação, eu como professor e ele como aluno, depois como colega na graduação e na pós-graduação sabia que este livro tinha algo de inovador e, com certeza, trazia contribuições importantes, diria até provocativas, a partir do título “MetaCiência na prática: para lidar com a pesquisa cientifica”.

A metaciência é uma disciplina convergente constituída de reflexões sobre a própria ciência. Melhor dizendo, é a ciência que estuda a ciência. Marcos puxa esse tema para o campo de pesquisa da ciência da comunicação, com novas perspectivas. Assim penso eu. O livro, traz ainda, discussões saudáveis e pertinentes aos aspectos epistemológicos da metaciência quando tenta solucionar ou minimizar, através do diálogo, a permanente e quase sempre conflituosa relação entre orientador e orientando.

Neste livro Marcos levanta uma série de questões principalmente na hora das definições do emprego da metodologia e do método, da teoria e da prática, que é sem dúvida um dos momentos de grandes tensões entre orientador e orientando. Aí, vem mais uma salutar provocação do autor quando explica e constrói um mapa tipológico de cinco possíveis conflitos existentes em quase todas as etapas da pesquisa, do início até o fim entre orientador e orientando, e ele vai buscar, novamente, essas explicações no senso comum. Ou seja, o conflito patrão e empregado, policial e bandido, Faixa de Gaza, marido e mulher, pai e filho.

Deste modo, este livro, sem ser uma cartilha e muito menos um manual engessado de como fazer uma pesquisa, ao contrário, possibilita uma série de reflexões de como lidar com a pesquisa, apontando caminhos cheios de alternativas para um embate construtivo e quase sempre sem fim entre orientador e orientando. O autor demonstra os vários percursos para se pensar sobre a teoria e a pratica, a metodologia e o método, como ingredientes intrínsecos ao trabalho científico, mas sem restringir, sem tolher a liberdade e a criatividade dos envolvidos na pesquisa, principalmente do orientando. E é de uma felicidade enorme quando seleciona uma metáfora como explicação didática para distinguir o que é metodologia e o que é método. Distinção essa que é quase sempre um problema para o pesquisador iniciante ao trabalho cientifico e até mesmo para os mais experientes.

Marcos define a metodologia, "...como o conjunto de conhecimentos em que se estuda os melhores procedimentos praticados em determinada área para a produção desse desejado conhecimento". E explica “...o método como o processo através do qual podemos alcançar um determinado fim que buscamos conhecer ou desvendar”. Mas, é usando a metáfora do sujeito que vai morar perto de um lago e planeja a melhor maneira de pescar camarão. Na exemplificação, através dessa metáfora, Marcos Nicolau consegue, com bastante clareza, a definição de metodologia e método de pesquisa, e mais um a vez vai encontrar o exemplo no senso comum.

Adiante, o professor Marcos faz uma pertinente provocação, bastante interessante quando chama a atenção para as possíveis e viáveis transgressões, às vezes necessárias, das enfadonhas etapas de formatação, de normatização da mera exigência estética para deixar o trabalho científico “arrumadinho”. O autor deixa bem evidente que não se trata de uma atitude de subversão, de coisa estabanada, de uma aventura metodológica ou mesmo da transgressão pela transgressão, e sim, de diferentes procedimentos no decorrer da pesquisa, que emergem conforme as necessidades de cada momento com o objetivo de melhor obter os resultados desejados. E mais uma vez inova quando afirma que é o pesquisador quem deve dar adequada função às regras normativas e formatação do trabalho final. Não é a obediência cega às regras normativas da ABNT que torna um trabalho científico melhor; o importante é que se tenha o domínio, o conhecimento das regras e normas vigentes da ABNT, e transgredi-las quando se tem certeza de estar inovando e criando regras normativas para um melhor andamento do trabalho científico, nada deve ser gratuito ou ser impedido. Não são essas novas regras e normatizações, quando justificadas metodologicamente, que irão tirar o mérito do trabalho de pesquisa.

Com esse pensamento, o autor não quer dizer que o trabalho científico não tenha regras, não tenha normas e nem rigor metodológico, mas o trabalho de pesquisa não é uma coisa engessada, não existe uma linearidade, não é uma receita de bolo com pesos e medidas pré-estabelecidos, principalmente quando se trata do campo de pesquisa nas ciências humanas. Acho que é nesse ponto que Marcos avança nos seus questionamentos e neste livro traz contribuições importantes para uma melhor aproximação entre orientador e orientando.

Marcos Nicolau, mesmo como um professor e pesquisador experiente que já atingiu a sua maturidade acadêmica, demonstra, neste livro, suas inquietudes e as necessidades de se buscar, permanentemente, alternativas metodológicas e métodos da pesquisa para o campo da ciência da comunicação.

Tabatinga/PB, verão de 2016

Osvaldo Meira Trigueiro

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