sexta-feira, 29 de maio de 2015

O jeito que o brasileiro vê TV esteja onde estiver


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatista – IBGE, acaba de divulgar os mais recentes indicadores sobre a utilização da Internet, da telefonia celular, sinal digital de televisão aberta, televisão por assinatura e de antenas parabólicas para o uso pessoal em domicílios particulares e permanentes. Os dados foram coletados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – IBGE/PNAD 2013.


A pesquisa constatou que os brasileiros com 10 ou mais anos de idade acessaram mais em 2013 a Internet por meios de microcomputadores, telefone celular, tablet e outros equipamentos. Ou seja, 85,6% milhões de brasileiros com 10 ou mais anos de idade utilizaram em 2013 a Internet, correspondente a 49,4% da população que busca informações, diversão e entretenimento pela rede mundial de computadores. A pesquisa demonstrou que 80,0% da população, com 10 ou mais anos de idade, que tinha telefone celular é da área urbana e 47,9% da área rural.
São mais de 130 milhões de brasileiros que usam o telefone celular o que corresponde a 75,5% da população. Mas é a televisão que continua sendo o meio de comunicação de maior presença nos domicílios dos brasileiros, alcançando cerca de 97,2% da população do país.
Mas quem ainda usa televisão
Sem dúvida cada vez mais o microcomputador, o telefone celular, o tablet e tantos outros equipamentos tecnológicos já são partes integrantes da vida cotidiana da maioria dos brasileiros. Mas como a minha área de estudo no campo das mídias é mais voltada para a televisão, faço aqui uma resumida análise desse consumo e uso pelos brasileiros, conforme os dados obtidos na pesquisa do IBGE/PNAD – 2013, recentemente divulgada. Devido à sua extensão territorial e às diferenças socioculturais, o Brasil tem várias maneiras, jeitos, espaços e tempos de ver televisão na cidade e na área rural. Aqui ressalto as condições da audiência da TV em algumas das pequenas cidades do interior paraibano e na área rural.


Em 2013, período de realização da pesquisa, dos 65,1 milhões de domicílios particulares e permanentes do Brasil, 63,3 milhões tinham televisão, o que corresponde a 97,2% da população que tem pelo menos um aparelho de televisão em casa. O acesso a TV por assinatura era de 29,5% da população, correspondendo a 18,7 milhões de domicílios, já 70,5% não têm acesso a TV por assinatura, o que vale dizer que 44,6 milhões de domicílios não têm acesso a TV paga.

Quanto ao sinal digital, em 2013 a TV aberta alcançava 19,7 milhões de domicílios, apenas 31,2% dos brasileiros com acesso a essa prestação de serviços. A recepção do sinal de TV por antena parabólica era utilizada por 38,4% da população, desse total 78,3% estava nos domicílios rurais. A maioria dos brasileiros continuava usando nos domicílios as TVs de tubo antigas, mas ainda eficientes.  No total das antenas parabólicas em uso no Brasil 50,7% estavam instaladas na Região Nordeste. Com relação ao uso da televisão por assinatura é o Nordeste que tem o menor percentual, apenas 15%. Portanto, quem faz mais uso das antenas parabólicas são as famílias de menor poder aquisitivo que encontram nesse tipo de equipamento a melhor alternativa de acesso ao sinal de TV com qualidade e com maior quantidade de canais a baixo custo. Não foi por acaso que o Nordeste apresentou o maior percentual de antenas parabólicas nos domicílios das áreas rurais e das cidades interioranas com menos de 20 mil habitantes, onde se concentra grande parte das famílias de menor renda per capita por domicílio. Ou seja, nas cidades rurbanas e nas áreas rurais do interior nordestino. Cidades Rurbanas, aqui usando o neologismo empregado pelo sociólogo brasileiro, Gilberto Freyre, para definir as pequenas cidades com menos de 20 mil habitantes em transição do rural para o urbano mas, que com o jeitinho brasileiro estão interligadas ao mundo globalizado pelos diferentes meios de comunicação: estejam onde estiverem.

Na Paraíba, o estado de referência das minhas pesquisas, os domicílios com sinal digital de TV aberta correspondiam a 26,7%, já aqueles com acesso ao sinal por assinatura o percentual era de 14,1% e os domicílios com antenas parabólica 50,9%. A taxa das pessoas com 10 ou mais anos de idade que possuíam telefone celular chegava a 73%, os estudantes com 10 ou mais anos que usavam a telefonia móvel era de 71,2%, já o uso do tablet nos domicílios não chegava aos 9,1%, mas, o percentual de domicílios que usavam a Internet banda larga fixa era de 71,5%.
A população estimada do Estado da Paraíba em 2014 era de 3.943.885 e, deste total, em janeiro de 2015, 524.822 de famílias eram beneficiárias do programa Brasil sem Miséria, que tem o objetivo de tirar da linha de pobreza as famílias com renda per capita inferior a R$77,00. Portanto, 44,56% da população paraibana distribuída nos 223 municípios, recebe do Bolsa Família um valor médio mensal de R$177,00. Mesmo diante dessas condições de baixa renda per capita, os dados demonstram que é crescente o número de famílias que têm nos seus domicílios equipamentos das novas tecnologias de informação e comunicação – TIC, como aparelhos de TV, de rádio, telefone celular, acesso a Internet, além de outros bens duráveis como geladeira, fogão, micro-ondas, máquina de lavar roupas, motos e tantos outros (Fontes: IBGE/PNAD 2014 – MDS/Ministério do Desenvolvimento Social/2015).
O acesso às novas tecnologias, com mais recursos, com mais alternativas de uso, está diretamente condicionado a uma melhoria de renda da família e consequentemente ao seu poder de compra, mas, adquirir TV com tela fina, telefone celular e até mesmo Internet no domicílio não significa, necessariamente, uma melhor qualidade de vida, é mais uma decisão de prioridade da família. Ou seja, na sociedade de consumo a apropriação das novas tecnologias, especialmente da televisão, continua sendo um ato de grande significação nos domicílios independente da classe social e das condições de habitação, até porque a TV não é mais um dispositivo eletrônico que está na casa, faz parte da casa e da vida cotidiana das famílias brasileiras, onde é quase impossível viver em família e em sociedade sem ver televisão.
Hoje em dia é bastante fácil comprar TV, celular, acesso à Internet até por que são várias as alternativas de aquisição desses equipamentos, as ofertas dos negócios de crediário ou da compra “fiado” nas lojas autorizadas, nos camelódromos, nos negócios piratas e nas feiras de trocas espalhadas pelo país afora onde se pode comprar a baixo custo quase todos esses equipamentos. Mas, até hoje persistem as preocupações sobre a televisão como um dos meios de informação e comunicação, de maior influência nos hábitos e costumes da sociedade com seus efeitos devastadores, alienantes, com conteúdo que quase sempre exibe as mesmas coisas; veicula ideologias dominantes; deforma as criatividades das crianças e adolescentes; que empobrece ainda mais a curiosidade e as opiniões dos adultos; isso tudo, para os mais pessimistas ou apocalípticos. Para os mais otimistas ou integrados a televisão continua sendo um símbolo da modernidade por excelência, que democratiza a informação e o conhecimento.


Será que há razão para essas preocupações entre apocalípticos e integrados? De um lado ou de outro, será necessária vigilância constante sobre a televisão, mas, só se for uma vigilância sem “armas apontadas” para os apocalípticos ou integrados. As preocupações manifestadas com relação ao dualismo do “bem” e do “mal” na televisão são pertinentes, mas devem ser analisadas criteriosamente e não só no achismo ou na transferência de responsabilidades para culpar a televisão por quase tudo de errado e de ruim que acontece na família brasileira. 

A culpa é das novelas que só ensinam coisa errada? A culpa é da televisão pelo crescimento da violência? Será verdade? E qual é o papel da família, da escola, da igreja e de tantas outras instituições civis organizadas que operam como mediadoras da sociedade? O que estamos fazendo para melhorar a recepção dos conteúdos midiáticos. 
Chamo atenção para a importância de uma discussão de corresponsabilidade sobre o consumo e uso da televisão e das redes sociais, que envolva diretamente as famílias e todos os níveis de educação, já que a pesquisa do PNAD 2013, cuja amostragem probabilística inclui pessoas com 10 ou mais anos de idade. Ou seja, aqui no Brasil, crianças, adolescentes e adultos de ambos os sexos são todos constituintes da audiência da televisão.
Os dados demonstrados na pesquisa são referências importantes para se estruturar uma política educacional de tempo integral, uma política de consumo e uso dessas novas tecnologias, especificamente da televisão, do telefone celular e o acesso à Internet. Não basta acessar essa avalanche de conteúdos que recebemos as 24 horas do dia, mas, educar para melhor acessar é papel fundamental principalmente da família e da escola. 
O mundo atual é outro, as mídias estão alcançando os mais longínquos recantos do país e precisamos pensar a sociedade brasileira inserida no contexto global da economia, da educação e da cultura, mas levando em consideração as suas especificidades regionais e  o espirito do local. É essa a realidade em que vivemos, é inevitável, diria até irreversível, a relação direta das mídias com a sociedade, consequentemente com a família a educação e a cultura. 
Os domicílios, das cidades rurbanas ou rurais, são quase sempre pequenos, com sala de visitas, com um ou dois quartos, cozinha, banheiro e terraço, telhado rústico e quase sempre sem forro. São construções de tijolos ou taipa, tipologia que caracteriza a arquitetura interiorana do Nordeste brasileiro. É na sala de visitas, o espaço mais nobre da casa, onde fica o aparelho de televisão e tantos outros equipamentos eletrônicos da modernidade industrial para atender os desejos da sociedade contemporânea. 
O telefone celular, que também é relógio, rádio, máquina fotográfica, câmera de vídeo, calculadora e mais uma série de funções, ora está no terraço, na sala, no quarto, no banheiro, na cozinha, na carroça, no cavalo, na bicicleta, no carro, na moto, na igreja, nas festas, sempre perto do seu usuário. Ou seja, o telefone celular e a televisão são próteses como extensão do nosso corpo, é quase impossível viver sem uma delas. 
Quase sempre o sinal de TV, do telefone celular e o acesso à Internet chega primeiro nas pequenas cidades – cidades rurbanas - mesmo antes das estradas ou das ruas asfaltadas, do saneamento básico, da iluminação pública, da delegacia de polícia, dos hospitais e até mesmo de uma boa escola. 
Os jovens brasileiros entre 10 e 20 anos passam em média mais de quatro horas diárias assistindo TV ou acessando a Internet como meio de diversão e entretenimento (Fonte: Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014). Passam mais tempo na TV, ou na Internet do que na sala de aula (Fonte: www.todospelaeducacao.org.br). 
Os domicílios nas pequenas cidades e nas áreas rurais, não são mais espaços com tempos marcados só pelas datas cíclicas das festas sagradas e profanas da religiosidade popular, do cronograma do trabalho e do lazer com características próprias das famílias brasileiras, antes da chegada da televisão, agora do celular e da Internet. Os espaços e tempos do domicílio, na sociedade midiatizada, são cada vez mais agendados pela hora da televisão determinada pelas novelas das seis, das sete e das nove, pelos programas policiais, telejornais e tantos outros que ocupam esses espaços e tempos durante o dia e a noite, e agora pelas redes sociais nos telefones celulares e tablets. Mesmo assim, os domicílios continuam interligados à cidade e à rua e ao mundo globalizado, porém sem a perda total das suas referências, da vida sociocultural do local onde permanecem os códigos, os valores éticos e morais tradicionais da família.
A televisão, a Internet, os telefones celulares e as redes sociais chegaram e modificaram o comportamento da sociedade humana e não seria diferente com a população brasileira. Mas, os meios de comunicação não têm poder para tanto, de isoladamente transformar uma sociedade para melhor ou pior, é necessário que encontre um campo socialmente fértil, com fatores que favoreçam tais influências e para isso necessitam de uma sociedade frágil em vários aspectos. 
É verdade que os conteúdos das mensagens televisivas provocam significativas mudanças, mas, sempre mediadas por diferentes fatores educacionais e culturais, nunca isoladamente como um instrumento principal dessas mudanças para o bem ou para o mal. O mais importante instrumento de transformação de uma sociedade é sem dúvida a família e a educação. Ou seja, a casa e a escola. Sou um dos otimistas, um dos integrados e vejo avanços significativos no uso das Tecnologias da Informação e da comunicação - TIC no desenvolvimento da sociedade brasileira.
Os registos fotográficos, aqui, são resultado de documentos da pesquisa empírica desenvolvida no período de 2003 a 2011, sobre a recepção da televisão, em diferentes cidades paraibanas, principalmente com menos de 20 mil habitantes, onde estão localizadas as famílias de baixa renda per capita, mas, que são cada vez mais consumidoras, usuárias de bens materiais e simbólicos da sociedade midiática.





5 comentários:

  1. Maravilhoso esse post.
    vou recomendar meus alunos.
    Abs
    Erica

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  2. Adorei!
    bjs,
    Mii Saki
    MS Communications Ltda
    South America Bureau

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  3. Muito bom, como sempre...
    Carlos Nogueira

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  4. A comunicação do ponto de vista do comportamento e da economia, passa por transformações e novas interpretações, que vão balizando investimentos publicitários e meio que reduzindo os espaços dos impressos assim como as discussões sobre impactos da disseminação das opiniões e do conhecimento. Em torno da televisão há, ainda, muito mais apocalípticos que integrados, que não sabem explicar a opção da família em adquirir televisão e não livros; em ter celulares e tablets modernos para se manter conectada sem que efetivamente agregue melhoria da condição de renda e de vida. Um dia estava esperando meu carro numa borracharia e um pedinte de rua estava também pois contava com a concessão da família para usar o banheiro e tomar banho. Ele tinha um celular. No mesmo momento, uma varredora de rua entrou no local, igualmente com celular e reclamou que ele não tinha atendido o telefonema dela. Os dois aparelhos eram melhores que o meu.

    Sua reflexão é real - família e escola têm muito mais influência no comportamento social.

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  5. A comunicação do ponto de vista do comportamento e da economia, passa por transformações e novas interpretações, que vão balizando investimentos publicitários e meio que reduzindo os espaços dos impressos assim como as discussões sobre impactos da disseminação das opiniões e do conhecimento. Em torno da televisão há, ainda, muito mais apocalípticos que integrados, que não sabem explicar a opção da família em adquirir televisão e não livros; em ter celulares e tablets modernos para se manter conectada sem que efetivamente agregue melhoria da condição de renda e de vida. Um dia estava esperando meu carro numa borracharia e um pedinte de rua estava também pois contava com a concessão da família para usar o banheiro e tomar banho. Ele tinha um celular. No mesmo momento, uma varredora de rua entrou no local, igualmente com celular e reclamou que ele não tinha atendido o telefonema dela. Os dois aparelhos eram melhores que o meu.

    Sua reflexão é real - família e escola têm muito mais influência no comportamento social.
    Naná Garcez

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