quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Caboclo & Caboclos

Capa do CD
Caboclo é o título do novo álbum de Pierre Aderne lançado este ano em Portugal com boa aceitação de público e da crítica não só pela beleza das músicas, mas pela obra de arte da sua embalagem e a participação de convidados entre os quais Melody Gardot e Philippe Baden Powell. O Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, Portugal, onde aconteceu o concerto de lançamento de Caboclo, no dia 14 de novembro, é testemunha do que digo.

De caboclo Pierre tem a sabedoria, a persistência, a luta para chegar onde quer, a superação das dificuldades e o desejo de viver em harmonia com a natureza, assim como são os verdadeiros caboclos. Caboclo, o álbum de Pierre, é uma mistura de música brasileira e portuguesa, passando por Cabo-Verde e pelo mundo afora.

Caboclo é o filho nascido de índio com branco (ou vice-versa), que tem caraterísticas fisionômicas marcantes que definem bem essa mistura e, quase sempre, habita áreas próximas das matas, dos rios e vive como pessoa simples, mas grande detentora de saberes culturais tradicionais. Nesse sentido Pierre Aderne é um caboclo que mistura diferentes estilos musicais com caraterísticas que definem muito bem o seu jeito de cantar e compor. É caboclo quando consegue juntar a música tradicional e contemporânea brasileira e portuguesa (re)simbolizando o antigo e o novo sem cair na mesmice e sem forçar “a barra”, até porque Pierre é caboclo com conhecimento de causa.

Nascido na França, Pierre sim, é caboclo pela vivência lá na comunidade de Olhos D’Água no interior de Goiás, junto com a caboclada ouvindo e cantando a Catira e a Folia de Reis, é também caboclo pela sua passagem por João Pessoa na beira do mar do lado de cá do Atlântico convivendo com os caiçaras cantadores e dançadores de Cordel, de Coco Praieiro, de Ciranda e de Bumba-Meu-Boi, ou ainda a vivência, já mais maduro, no Rio de Janeiro entre Copacabana e Ipanema ouvindo e cantando o que tem de melhor do samba brasileiro e da bossa nova.
Por tudo isso e muito mais que o novo álbum de Pierre é Caboclo.
Contra capa do CD Caboclo

Caboclo é global porque o seu conteúdo é mundial e local ao mesmo tempo, porque Pierre, mesmo morando na Rua das Pretas bem ali no centro de Lisboa, continua com “os pés” assentados na sua terra, no seu chão e nas suas experiências vividas, desde o nascimento, com o professor Armando Faria e a professora Laís Aderne.
Não é por mero acaso que Caboclo é essa hibridização cultural vivenciada por Pierre Aderne, como resultado do cruzamento de um português lá de Vilar dos Prazeres (Ourém) com uma brasileira aqui de Diamantina/Minas Gerais.

Não é só mais a língua e nem o Atlântico que unem o Brasil a Portugal (ou vice-versa), agora temos o Caboclo de Pierre Aderne.

Deguste em "Fado do Ladrão Enamorado" um
pouquinho do que encontra em Caboclo.



3 comentários:

  1. Sr . Professor Osvaldo Meira Trigueiro, que "classe"! Que categoria de descrição! Imagine se tivesse conseguido estar presente?Muito bom! Parabéns!
    Grande abraço
    Adélio Neves

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    1. Olá Adélio, obrigado pelo acesso ao blog. Realmente foi pena, mas não foi possível ficar.
      Abraços a todos
      Osvaldo

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  2. Belo texto com um clip espetacular. Itamar Nobre

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