quinta-feira, 21 de junho de 2012

Quadrilhas Juninas e as Festas dos Santos Populares

Chega a época das festas juninas no Brasil e continua a polêmica sobre as apresentações das quadrilhas nos festivais e encontros promovidos por órgãos públicos ou privados, se são tradicionais, se são estilizadas, se estão mais parecidas com as escolas de samba do Rio de Janeiro ou mesmo com blocos de carnaval. Não importa o que seja, mas que são apresentações que atraem público, elevam a autoestima dos seus brincantes, na maioria jovens que moram nas periferias das grandes cidades, disso tenho certeza, principalmente, depois que venho observando a evolução desses grupos organizados para celebrar os santos populares do mês de junho: São Antônio, São João e São Pedro.   
Os festivais, os encontros de quadrilhas juninas se espalham por quase toda a região nordestina como um novo espetáculo e todo o espetáculo tem três componentes fundamentais: o espaço, o tempo e o movimento de apresentação. Mas, na sociedade contemporânea emerge um quarto componente importante, o midiático, que quase sempre determina um novo espaço, um novo tempo e um novo movimento para as apresentações dos espetáculos, especialmente para as transmissões da televisão ao vivo, aliás, isso acontece no carnaval do Sambódromo, no festival do Boi em Parintins, na festa de Rodeio em Barretos e em tantas outras festas populares brasileiras.

Evidentemente as festas juninas no Nordeste não poderiam ficar de fora do jogo de interesse da mídia e principalmente da televisão.  Antes de criticar as atuais quadrilhas é necessário conhecer quais são as origens das nossas festas populares, de onde vieram as nossas manifestações culturais tradicionais, como surgiram na Península Ibérica e como chegaram no Brasil. São questionamentos que necessitam de melhores reflexões dos estudiosos, dos pesquisadores e dos agentes responsáveis pela administração das políticas públicas para as culturas tradicionais, por que o povo está interessado mesmo é em festejar e celebrar esses santos populares. 

Sabe-se, através da história, que na Idade Média os povos celebravam festas para os deuses pagãos nas mudanças das estações do ano, no antigo Egito em homenagem a deusa da castidade Isis, em Roma ao deus do vinho Baco e assim foram se espalhando as festas dionisíacas, lupercais, saturnais, charivaris ou assuadas que eram festas com suas inversões dos valores morais, com os cortejos jocosos, das alegorias e das extravagâncias. Ou seja, as festas das mudanças de estações do ano, que predominaram na Europa Antiga por longos períodos, quase sempre foram espetáculos de carnavalizações, das fantasias grotescas, com muitas cores, irreverências e de personagens patéticas. A passagem da primavera para o verão é a melhor época para a colheita das plantas mágicas com seus poderes de cura e nesta agenda de festividades, das crenças populares estavam as comemorações ao solstício de verão no hemisfério norte e aqui chegavam  com os colonizadores em forma de festa religiosa e profana não mais para comemorar a mudança de estação, achegada do inverno no hemisfério sul, que sempre ocorre entre os dias 20 e 24 de junho, mas para celebrar os santos católicos: Santo Antônio, São João e São Pedro. 

Portanto, não basta fazer crítica, é necessário entender a evolução das nossas festas populares, situá-las nos diferentes contextos socioeconômicos, nos espaços/tempos/movimentos do público e privado, da casa e da rua, cada vez mais influenciada pela sociedade midiática. Com a globalização cultural ao invés da propalada extinção das culturas tradicionais o que estamos vendo são suas ressignificações para atender as demandas de consumo de bens culturais, para o turismo e para a mídia, com suas formas hibridas do global/local. Aqui chamo atenção para as quadrilhas juninas como um espetáculo popular em evolução, com torcidas organizadas e que atraem grandes públicos nas suas apresentações.

Este ano o concurso de quadrilhas juninas de João Pessoa ocorre na praça Dom Adauto, mais conhecida como a praça do Bispo. Durante três noites mais de 20 grupos se apresentam e as três primeiras classificadas disputam o campeonato paraibano que será realizado no Parque do Povo, em Campina Grande.

E em festejos juninos não pode faltar forró nos seus diversos gêneros: pé-de-serra, universitário, de plástico e eletrônico entre outros. É nesse “ritmo” que participarei da banca examinadora da defesa de dissertação da mestranda Libny Silva Freire na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.


2 comentários:

  1. Infelizmente, caro amigo, a realidade é esta mesma.
    A globalização midiática de nosso País nos conduziu a isto.
    Ainda gosto do S. João (agora mesmo estou regressando de Gravatá, onde passei - com Raquel, esses dias), mas continuo tradicionalista. Não me conformo com a transformação de nossas quadrilhas em escolas de samba, especialmente com esses concursos e campeonatos. Não faz muito tempo, ainda encontrávamos as quadrilhas como parte dos festejos juninos das comunidades ou até mesmo de uma rua em um bairro mais pobre das cidades, cujos moradores "curtiam" a festa joanina com alegria, quase sempre erigindo pequeno pavilhão que servia para a quadrilha e para um forró, digamos, doméstico.
    Hoje isto praticamente desapareceu...
    Não tenho veleidades de chegar a posição de mando em estado ou município e, assim, não há ameaças a essa evolução, pois se autoridade a quo recusaria ajuda e licença para que elas prosperassem.
    Um abraço , com parabéns pelos trabalhos que nos chegam pelo blog.
    Arael

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  2. Caro Osvaldo,

    pude, finalmente, fazer uma referência à sua reportagem e reflexão sobr as festas juninas portuguesas, que fez recentemente em seu blog.
    Espero poder voltar ao assunto.
    Se escrever mais alguma coisa, não se esqueça de dar conhecimento.
    Saudações amigas,

    Manuel Pinto

    CECS - Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade Communication & Society Research Centre Universidade do Minho - Campus de Gualtar
    4710-057 Braga - Portugal

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